quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Só pode ter sido aquela oitava onda.

Não tem outra explicação, só pode ter sido aquela oitava onda (considero como onda, mas mais parecia uma marola) pulada sem querer. Digo isso porque as superstições de final de ano são tratadas como um ritual aqui. Tudo é separado em 7, nem mais, nem menos. É feito um check-list "anti-azar" ao melhor estilo preparado pelas avós quando você vai viajar: roupa branca, champanhe, pulseirinha do nosso Senhor do Bonfim, 7 uvas, 7 caroços de romã (romã, cara. Quem costuma lembrar da coitada da romã no ano novo?), chinelo fácil de ser retirado para pular as 7 ondas na praia e a famosa lista de metas para o ano seguinte. Não tinha como dar errado.

Reunião básica com os melhores amigos e alguns membros da família. Ceia farta com muito arroz de lentilha (não podía dar uma chance ao azar em nenhum momento). Celular em mãos para mandar torpedos e fazer ligações aos mais próximos que estavam longe. Uma eterna espera para quinze minutos para meia-noite, quando todos vão para perto da praia esperar os fogos e pular as ondas. Deu meia-noite! Vários abraços, champanhe e milhões de superstições trazendo sorte. E mais champanhe, obviamente, para conseguir pular aquelas ondinhas sem ressentimento. Perto do mar é como se estivesse dentro dele, ou talvez seja o próprio. É o local que a paz aparece de fato: conversas consigo mesmo e definição das metas, orações e desculpas pelas faltas no ano que se passou e, em muitos casos, finalizar tudo com a excelência de 7 ótimos pulos. Cada pulo, um suspiro. Levemente embriagado pelo champanhe - e pelas diversas coisas que tinham na casa -, fui pulando e me divertindo, até que perdi a conta e pulei a oitava onda. E foi aí que abri a janela para que as coisas pudessem dar errado.

Com aquilo que não saía da cabeça de jeito nenhum, uma providência foi tomada: o início das atividades do ano. Um janeiro semi-morto, meio zumbi, totalmente distante de tudo o que foi planejado: resumido em internet e noites regadas à cerveja (o que não considero de todo ruim). Um início em um emprego desgostoso e uma corrida contra o tempo, cheia de riscos e coisas que tinha medo. Nem preciso dizer que o emprego não durou 30 dias, não é? E nem eu nele. Incompactibilidade de genes. Não tinha dúvidas que não havia nascido para aquilo. A química do amor não bateu, como diriam os românticos. E fui correr atrás do amor platônico.

Ah, o amor platônico. Outro ponto fundamental e inesquecível que a oitava onda, a maldita, proporcionou ao meu ano: transformou todos os meus amores em amores platônicos. E não foram poucos não, viu? Com convicção, posso dizer que me apaixonei pelo menos umas 7 vezes (número cabalístico?) por essas pessoas perfeitas demais para me enxergar. Mas eu não ligava. Fazia vista grossa e inventava alguma doença neles para justificar o ato, tal como miopia, hipermetropia, presbiopia ou até mesmo uma queda despretensiosa de olho na pia, vocês sabem como é. Só sei que nada deu certo, e acredito que muitas das vezes, senão todas, foram por minha causa - ironicamente eu prestei muita atenção. Óbvio que não propositalmente. Mas acho que assim como existem pessoas perfeitas demais para te enxergar, existem pessoas perfeitas demais em te colocar um cabresto, ou te cegar também. Tudo é justificável para amenizar o resultado.

Mais do que desiludir profissionalmente e cegar emocionalmente, uma mísera onda conseguiu tirar a percepção das coisas. Totalmente (foi só para rimar com o resto dos fatos). É com uma seriedade fora do comum que pergunto se foi só o meu ano que passou em 1 mês. O ano voou, as tarefas tiveram seus prazos encurtados e o que foi bom também precisou ser mal aproveitado por conta disso. Talvez não digo que foram "mal aproveitadas", mas aproveitadas de forma muito, mas muito mais rápida, assim como todas as coisas boas que a vida nos proporciona. A gente fica mais velho e a rotina nos envelhece mais ainda. O que é bom é ínfimo diante da chatisse rotineira. É por isso que deveriam durar um pouquinho mais. Só um pouquinho mais já tá bom.

Injustiças deixadas de lado, os benefícios que vieram devem e merecem ser comentados sempre. A sagacidade das coisas me ajudou numa coisa: a não perder tempo com coisas que realmente não esteja afim. Não digo que me ajudou a escolher o que é bom ou o que é certo pra mim, mas sem dúvida ajudou a lutar pelo o que eu quero. Ou seja, a onda me ajudou a quebrar a cara mais vezes no ano, mas nisso eu conheci pessoas novas, tive novas experiências e saí constantemente da minha zona de conforto. No platonismo pude ter várias chances de descobrir pessoas novas e redescobrir as antigas, o que foi mais do que único. Pude gostar mais e melhor das pessoas, e aprendi muito com isso (e acho que também entrei num processo de alcoolismo, mas deixa isso pra outra hora). Com o trabalho fracassado, eu consegui descobrir no que eu era bom. Talvez não descobrir, mas confirmar. Talvez não confirmar no que eu era bom, mas confirmar no que eu quero ser bom. Enfim, o tropeço me colocou novamente na linha e a queda me jogou para frente. E sei como devo continuar seguindo.

Foi um ano intenso, cheio de problemas e aprendizados (que sempre andam de mãos dadas), e um deles virou mandamento: Não se embriague de champanhe antes de pular as 7 ondinhas. Se não conseguir não se embriagar, não passe o reveillon na praia.

Acatei e vou passar num sítio.
Feliz Ano Novo.


André N. Bueno

domingo, 25 de dezembro de 2011

Um sonho dentro de outro sonho.

Não sei o que escrevo, e com isso já quebro mais uma promessa semanal. Não sei nem por que as faço se sei que não vou cumprir (eu me conheço um pouco). É como nos últimos dias, tenho rabiscado algumas frases sem sentido e procuro um elo para ligá-las. Talvez sejam apenas alguns espasmos criativos de alguma lembrança sua espremida na minha cabeça, não sei. Mentira, não pode ser só uma lembrança. Vou te confessar uma coisa, mas fica entre nós, tá? Você não tem saído muito da minha cabeça, e isso me preocupa um bocado. Você teve hora pra chegar. Chegou do nada, fora do combinado, inclusive. Mas não lembro se em algum momento cogitou em uma hora para sair.

Bem queria eu conseguir entender tudo o que acontece comigo. Entender o porquê das pessoas entrarem na minha vida. Entender o porquê de permanecerem e, mais do que tudo da vida, entender o porquê de algumas delas escolherem sair. Às vezes penso que é melhor deixar assim mesmo, que essa dúvida eterna fique maltratando os pensamentos. Embora a curiosidade mate o gato - e nem sei também se é assim o famoso ditado -, manter essa curiosidade deixa as coisas fluirem tranquilamente. Fluir normalmente. É, também não sei se é nisso que eu acredito, mas tá tranquilo.

Hoje eu sonhei com você, e eu queria entender isso também. Na verdade, é o que mais tem acontecido. Você bate ponto na minha cama todas as noites. Quando chego para dormir, o travesseiro já está quente e macio. Você já está lá me aguardando para acariciar a minha cabeça enquanto pego no sono. Eu já sou preparado para sonhar com você, meu bem. E o sonho de hoje foi engraçado. Eu te procurava e você me dava esporros, dizia que eu estava fazendo errado, que era um imperfeito. Será que o meu passado contigo foi assim, imperfeito? Tão imperfeito quanto o meu uso do "dizer", no pretérito imperfeito? Pode ser que sim, mas acho que minha imperfeição no passado foi só uma: pensar no futuro.

Falando em futuro, existe alguma coisa mais vaga do que o futuro? Nossa relação é meio que atemporal, eu acho. Não tenho nem um passado e nem um presente contigo, quem dirá um futuro. O tempo está desconexo e sem sentido, assim como os parágrafos desse texto. Mas quem foi que disse que as coisas têm que fazer sentido, não é? Se tivessem, nós não deveríamos nascer de cabeça pra baixo; Nosso coração não poderia ser partido nunca; E, sem dúvida, as mulheres deveriam ter nascido com um manual de instrução. Essa última frase, aliás, já poderia ser considerada o clichê do século XXI. Não a frase, mas o sujeito dela. Ou a sujeita, sei lá.

O final do ano me perturba um pouco. Eu falo tudo e acabo não falando nada. Na mesa estão todos os meus problemas, mas nenhuma solução. Quanto mais tento me descomplicar, me complico ainda mais. Chego no ponto de achar que preciso dos meus problemas para viver. Eles balizam a minha vida de uma forma singular, e permitem que eu dê os meus vôos. Vou te contar um segredo, tá? Eu sou um idealizador. Sou eu quem crio o meu mundo, com todas essas coisas desnecessárias para saciar as minhas necessidades. Junto tudo o que nunca tive - você, por exemplo - e misturo nos meus sonhos. E é nesse momento que eu ajoelho e agradeço por ser você a responsável por eles. Amém.

ps.: nem preciso dizer que não achei o tal elo.


André N. Bueno

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Eu não sou um cara perfeito.

Eu não sou o cara perfeito, nem de longe. Aliás, só pra eu me considerar "bonitinho" já tenho que dar uns três passos pra trás na hora de pentear o cabelo, mas deixa isso pra lá. Pra começar, eu sou hiperativo, tenho déficit de atenção e baixa auto-estima (o pior que é verdade. Tomei remédio tarja preta durante 4 anos da minha vida para hiperatividade, e isso explica grande parte dos meus outros distúrbios). Por isso, não ligue se, ao olhar para mim, encontrar-me agitado, eufórico e mexendo o pé ou a mão. Também não fique nervosa quando eu não entender o que você disser e soltar um sonoro "quê?", mas fique ligada, porque vou usar essa desculpa sempre que não ouvir direito o que você disser. E, para contribuir com tudo, tivemos uma ajuda dos astros: sou canceriano. Mas isso é pra mais tarde.

Então você pensa: "Por que esse cara fica falando mal de si mesmo?". Pois é, eu tento ser muito pé-no-chão quando falo mal de mim. É quase como uma análise socio-antropológica. Quando falo de mim, penso em duas coisas principalmente. A primeira é que falar bem é fácil demais e as pessoas já estão pré-dispostas a ouvir elogios e fazer elogios. Sem contar que falar bem de si próprio não passa credibilidade. Segunda e mais importante: quando você se joga no abismo (um abismo hipotético, obviamente), não existe outro caminho a não ser subir. Por isso, quando eu conheço alguém eu já vou falando mal de mim. Falo mesmo. Mostrados os meus podres, a chance de impressionar é bem maior.

Digo que não sou perfeito por que não sou mesmo. Aliás, se achar perfeito já é uma imperfeição. Visto a minha imperfeição, faço de tudo para ser um pouquinho melhor em todos os dias da minha vida, um dia após o outro. Eu erro muito e isso é um fato. Mas, embora tenha milhares de defeitos, penso muito sobre meus erros, e não me deixo cometê-los novamente. Ou seja, meus erros são todos inéditos (e não sei se posso considerar isso um grande feito). Um grande feito é a experiência. Os erros são apenas uma forma de conhecer os caminhos que posso seguir. Quanto mais ando nos espinhos, mais descubro caminhos novos. Mas e os pés? Não estão machucados? Pois é, mas quando as intenções são boas a cicatrização é rápida.

Mas o que posso tirar dos meus erros? Bom, a hiperatividade nunca me deixou ficar parado. Isso me fez uma excelente companhia, sempre disposto a fazer tudo o que me propuserem. Gosto de ficar do lado e andar por todos os lugares junto. Aí vocês falariam: "beleza, uma excelente companhia. Mas de que adianta uma ótima companhia se ela tem déficit de atenção?". Pois é, é bem complicado, viu. Eu me esforço muito para prestar atenção nas pessoas. Posso dizer que quando a pessoas falam, as pessoas em volta desaparecem. Ou seja, quando você falar, eu só vou prestar atenção em você e mais ninguém. Ouviu? Eu não, porque estou prestando atenção em você.

Então chega o lance da baixa auto-estima. O que é baixa auto-estima? É gostar pouco de si próprio, do próprio corpo e de como veste? Claro que não. Baixa auto-estima (um puta nome cacofônico e com pronúncia super confusa, inclusive) é aprender a valorizar os outros e descobrir que você não é melhor que ninguém, mas que pode melhorar. E sabe o que isso significa? Que eu vou valorizar você mais do que as outras pessoas, porque para mim você é única, e a minha primeira chance é considerada uma das únicas. E é por isso todo aquele "mau jeito" em lidar, desculpa.

Aí, como se não bastasse tudo isso, ainda vêm os astros e me pregam uma peça logo no meu nascimento: sou de Câncer. E o que isso significa? Significa que sou extremista, mas no bom sentido. É o signo que mais confia. É capaz de fazer uma amizade hoje e hoje mesmo convidar para tomar uma cerveja junto e, se ficar tarde, ceder sua cama para a amizade e ficar na rede da varanda. Agora, quando fala de mulher, se o canceriano gosta dela, ele gosta de verdade, viu? E não existe falsidade, porque ele não consegue disfarçar. A mulher é "A" mulher. Confia demais. Se você está com esse cara, agradeça e se orgulhe. É um dos poucos signos que preferem ficar mal a vê-la triste.

Eu não sou um cara perfeito mesmo. E se fôssemos pegar todas os defeitos e colocar lado a lado, teríamos hiperatividade, déficit de atenção, baixa auto-estima e canceriano. Agora, se fôssemos fazer um balanço do que aprendi com tudo isso, diria que nasci companheiro, por natureza me fiz atencioso, por achar os outros melhor, aprendi a valorizar ainda mais as minhas "primeiras oportunidades" e aprendi a ser palhaço pelo simples fato de não aguentar conviver com a tristeza de quem está do meu lado. E se eu fosse tirar uma conclusão de todos esses meus defeitos, acabaria sendo contraditório. Por que sim, eu sou perfeito sim. Sou perfeito na escolha das minhas imperfeições.


André N. Bueno

sábado, 26 de novembro de 2011

Saudades do que nunca tive.

Meus ídolos cresceram, minhas bandas favoritas envelheceram – algumas colocaram o ponto final em suas histórias – e meus filmes preferidos não passam de “figurinhas repetidas” da famosa Sessão da Tarde. Toda a minha infância, uma parte de mim que eu gosto e sinto falta, está indo por água a baixo, e sem qualquer possibilidade de eu lutar contra isso.

Sinto falta de sair na rua, quando ela ainda tinha as calçadas seguras para sentar e bater papo com os amigos. Sinto falta de quando os meus amigos eram mais animados ao gritar e falar e inventar brincadeiras, e de quando correr era vontade, e não necessidade. Sinto falta de quando o computador era apenas mais uma alternativa de brincar, quando não conseguíamos juntar a molecada para brincar de “piques”, e não a primeira opção. Sinto falta de quando os meus vícios se limitavam em dois “S”: sorrir e sorvete.

Se pudesse trazer coisas antigas para hoje, uma delas seriam as viagens em família, mesmo com minha família pequena – pequena na quantidade, gigante no amor. Também traria minha ingenuidade e minha criatividade de volta. Minhas manias e meus trejeitos, minha vontade de fazer bombas caseiras e a minha enorme capacidade de tirar todos do sério.

São saudades de coisas que nunca tive. Vivia numa época que “viver” era mais importante do que “ter”. A experiência valia mais do que tudo na vida. Gostava da época em que brigar com meu irmão pelo computador era legal, pois era mais uma forma de me aproximar dele. Hoje ele é um dos meus melhores amigos, embora o meu maior contato com ele seja com breves e esporádicos encontros nos corredores da sala de nossa casa ou no “disponível” nessas anti-sociais redes sociais.

E o amor? Sinto saudade do amor ridículo. Gosto de coisas bregas. Gosto de ficar junto (sou canceriano. Se não entendem, façam uma breve pesquisa). Gosto de coisas antiquadas, como cartinhas escritas a mão e declarações idiotas feitas de formas mais idiotas ainda, como rabiscar o espelho com baton. Saudade de conversas gigantescas no telefone, dos “desliga você”, e brigueiros épicos da mãe, quando a conta chegava. Minha história me fez sincero – até demais da conta. Se gosto, gosto como pingüim; gosto pra sempre. Se não, faço como indiana Jones e fujo.

Hoje eu pego tudo o que falo e fico pensando. Ouço uma música e vejo um filme em minha cabeça. Meu primeiro machucado, meu primeiro amor, mamonas assassinas e videokê. Passeios de domingo com meu pai, almoços com minha avó. Meu excesso de tempo para não fazer nada e uma certeza de que tudo é passageiro, exceto as piadas ruins que fazem com essa frase. Eu me perdi em mim mesmo, e na minha memória, e não quero me achar.

Minto. Não acho que minha identidade está sendo perdida. Não acho que nasci no tempo errado. Não acho que todas as minhas saudades não deveriam ter “virado” saudades. E não sou tão nostálgico assim. Só acho que se tudo o que comentei aconteceu, sem dúvidas de que aconteceu na hora certa, porque deixou saudades. Foram elas que me moldaram. Elas que me fizeram do jeito que sou. Se sinto todas essas saudades, são saudades de mim mesmo.


André N. Bueno
@dedenb

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Vivemos no excesso, mas perdemos a essência.

Os tempos mudaram e as pessoas também, e isso não me alegra nem um pouco. O mundo cresceu, mas as pessoas diminuíram. Não em tamanho, claro, mas em caráter. Diminuíram em personalidade, em valores, o que é uma perda muito maior. Todas as mudanças conseguem ser tão bruscas, tão intensas e, ao mesmo tempo, tão desnecessárias. Nada mais será como antes, e por isso que estou muito puto.


Eu estou em luto com a morte da inocência. A inocência no olhar das pessoas, nas conversas entre elas. O que sobrou foi a malícia. Gostava da época em que o interesse era conseguir arrancar um sorriso de alguém de forma despretensiosa. Como preciso culpar alguém, prefiro culpar a todos, pois o mundo e as pessoas vivem em um relacionamento de compensação: o mundo estraga as pessoas e as pessoas estragam o mundo.


A velocidade da tecnologia é a mesma velocidade com que cresce a amargura das pessoas, que é a mesma do aumento da minha indignação. O vício pelo novo estragou a tranquilidade das rotinas. Eu fico nervoso comigo mesmo, porque acho cada vez mais difícil trocar esse fanatismo tecnológico por alguns momentos a toa, deitado na cama com os pés pro alto, a pensar na vida. Ah, que saudade dos meus momentos de ócio que me acrescentaram tanto. Ao que sou, devo muito à minha preguiça. Foi ela que me ensinou a pensar.


Vivemos no excesso, mas perdemos a essência. Essa internet me deu tantos amigos. Então por que me sinto tão solitário no meio dessa multidão? Será que vou sentir falta dos seus “likes” e dos seus comentários das minhas bobagens rotineiras? Sinceramente não sei. Aliás, eu não sei nem quem são essas pessoas. Todas estão mascaradas atrás de uma tela de computador. Em cima de um palco de teatro. Agora todos são atores e podem ser quem quiserem. Tudo para conseguir algumas palmas.


Como desconheço as pessoas, criei eu mesmo uma forma de avaliação das minhas amizades. Desenvolvi um tipo de padrão de qualidade super específico e com uma capacidade identificadora incrível que se discrimina em duas partes. A primeira parte, e pré-requisito, é a seguinte: para ser meu amigo, tem que ter tomado comigo uma cerveja “real”. A segunda, e não menos importante, é que os meus amigos têm que utilizar o meio online justo e exclusivamente para fazer me afastar dele.


O novo mundo é uma geladeira, mas não quero entrar numa fria. Aliás, até quero, mas só pra pegar mais uma gelada.



André N. Bueno

@dedenb


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

De que são feitos os dias?

Há algum tempo tenho evitado a dúvida, a resposta e até mesmo pensar muito em assuntos sérios, na tentativa de viver uma vida mais tranquila, menos instigada, menos provocante, passiva de palavras que me dizem, na tentativa bem sucedida de me encantar e, em seguida, fazer escorrer rios dos olhos. Prometo não transbordar uma “lagoa de lágrimas” como a pequena Alice, assim que caiu na toca do coelho. Para ser bem sincera, algumas situações tem me comovido, porém não foram suficientes para fazer derramar aquele rio inteiro. Há quanto tempo você não se comove?

Me comovo até demais, acreditem. Querer entender a todos e ser muito compreensivo não é um bom conselho. Você acaba justificando para si mesmo todos os atos errados que alguém faz, tentando de maneira insana ser paciente. Ninguém precisa entender tudo! É bom se deixar levar, comover? É sim, mas não demais. Não faça igual a mim, não justifique algo que não merece sua atenção. Ignore, deixe de banda toda aquela desculpa esfarrapada que alguém inventa para lhe dizer que falta tempo para responder aquele e-mail, ou para um simples abraço. Quem gosta, dá atenção; quem gosta, vai atrás. Mas cuidado: precisa valer a pena.

Tem valido a pena ser racional, tem valido a pena não se machucar com algum sentimento? Tudo bem, ninguém quer se magoar. Mas será que não vale o risco? Talvez faça todo o sentido correr atrás da tal felicidade, permitindo-se sentir, gostar, arriscar-se. Pode ser que aquele velho ditado de que as coisas acontecem quando menos se espera faça sentido. Mas vai ficar aí parado, esperando alguém legal cair do céu? Vai jogar fora a oportunidade de ser feliz, mesmo que por alguns dias? Já que essa ideia de eterno me parece muito vaga, ainda que eu seja romântica demais querendo sempre alguém para sempre, tudo o que eu tenho querido por um grande período foge de mim em poucos dias.

Essa ideia de duração às vezes me preocupa. Parece-me que projetos que tenham uma duração maior também sejam mais felizes e verdadeiros. Na verdade, nunca tive um assim que durasse meses, anos. Não por falta de vontade. Digamos que quando algo tem a leve chance de dar errado, vai dar errado, como diz a famosa Lei de Murphy. Comigo tem sido assim, sempre com essa chance e a lei sendo aplicada. Se isso é desestimulante? É sim, garanto. O que podemos fazer é olhar para frente, com olhos de esperança e, ao mesmo tempo, razão. Olhar envolta de nós também, ver que não são somente de relacionamentos assim que são feitos os dias, mas de amigos de verdade.

Não tenha tempo para sofrer. Já viu como o céu está lindo esta noite? Não há motivo para se desesperar. Por mais que a grande maioria das minhas tentativas de felicidade tenham sido frustrantes, posso dizer que valeram a pena. Valeu a pena cada lágrima, cada sorriso. O sempre não quer dizer literalmente sempre... é algo que não se esquece, e que você sorri toda vez que lembra do quanto foi bom, do quanto te fez bem (apesar de mal também, isso te ajudou a crescer, você se lembra?). Posso até estar sendo compreensiva demais, utópica demais. Porém, de que são feitos os dias, senão da esperança por algo melhor, por um sorriso a mais, uma lembrança boa, uma boa saudade? Se não são disso, desculpem-me, eu só sei sonhar.

E não vamos nos adaptar ao que não nos agrada. Amemo-nos, para então amar alguém.



Texto feito pela Danielli, essa menina linda que teve uma "paciência de Jó" para escrever umas boas palavras nesse blog que está levemente abandonado, mas que não deixará, por razão nenhuma, de ser muito amado.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

No mundo da lua

Escrever sem tema, palavra sem letra, parágrafo sem frase. Nada precisa fazer sentido. Às vezes perguntam-me se estou ocupado, sem inspiração ou apenas sem vontade de digitar algumas poucas linhas aqui. Pergunta-me se estou vazio, sem conteúdo ou se perdi o jeito. O que poderia dizer? Se negar alguma dessas perguntas, me perderia para explicar o porquê da negação. Por isso, faço questão de apenas afirmar. Balanço a cabeça positivamente, abro um sorriso e solto um sonoro "uhum".

Assim como um poema sem rima, um comportamento também não precisa de significado. Às vezes você quer apenas ficar ali, parado, sem nenhuma intenção de manifestar algo (mesmo que isso já implique numa forma de manifestação). Maldita contradição de natureza humana. Por isso escolho afirmar com um sorriso. Não existe uma forma melhor de ser indiferente do que mostrar-me positivo, e demonstrar às pessoas que elas não precisam se preocupar comigo, porque às vezes, quando demonstro não pensar em nada, na verdade estou a pensar tanto que é preferível não soltar nenhuma pérola para não perder todo o brilho que o silêncio pode trazer.

Não dá para manter uma regularidade, porque sou um poço de irregularidades. Não dá para trazer sempre assuntos pertinentes, porque, às vezes, eu mesmo não consigo me achar. Não dá para colocar um peso no que estou dizendo, porque todos sabem que minha cabeça vive no mundo da lua e tem momentos em que prefere passar uma temporada por lá. E o pior é que vê isso como uma válvula de escape reversa, que funciona justamente para não deixar nada escapar.

Ainda bem - ou não - que tudo é passageiro e que não preciso me preocupar, pois logo colocarei os pés no Planeta Terra. É inevitável. Mas, enquanto isso não acontece, me deixem na lua, sem contato, com espaço e observando de longe toda essa loucura que os seres humanos causam nesse manicômio que eles fazem questão de chamar de "vida real". As aspas só justificam que de "real" não tem nada, e que talvez seja até mais irreal do que o meu mundinho da lua. O que o torna cada vez mais atraente aos meus olhos.

Infelizmente não conseguiria explicar algo que não é claro nem para mim, e por isso prefiro não falar nada. Busco apenas transformar a minha rotina nesse mundinho louco, insano e utópico que não deixa ninguém incomodar. Afasto-me em perspectiva, abro meus ouvidos quando não quero ouvir ninguém e fecho os olhos quando quero preciso enxergar melhor. É como disse antes: nada faz sentido. Para vocês, claro.

E não consigo explicar sem transformá-los imediatamente em psicólogos que me encherão de conselhos que, no fundo, não servirão para nada. Para dar um conselho sincero é necessário profundidade, o que apenas eu tenho no momento. Isto me faria o meu próprio psicólogo, o que me transformaria em uma pessoa mais maluca ainda. Por isso, quando as pessoas perguntam se eu estou ocupado, sem inspiração, sem ritmo ou se perdi o jeito, eu simplesmente me rendo à preguiça de apresentar o manual da boa convivência do meu louco mundo: Abro um sorriso, balanço positivamente a cabeça e digo (finjo) que sim, que perdi o jeito.


André N. Bueno

domingo, 25 de setembro de 2011

Minha certeza é a Incerteza.

Domingo frio, semi-chuvoso (se isto existir, é claro) e de muita preguiça. Tempo para dormir sem ter hora pra acordar e acordar sem ter hora pra dormir. Às vezes faz bem pra alma dormir um pouco mais cedo, pensando em como poderemos mudar a nossa postura no dia de amanhã. Se não conseguir mudar a postura, que mude um pouco mais o jeito de pensar. Talvez seja isso o mais urgente. Falta inspiração, motivação e, talvez, um pouco de sentimento. Falta alguma coisa para nos abastecer. Falta algum combustível.

Já estamos no tempo de adaptação e condicionamento. Chove todos os dias e ainda não aprendemos que é necessário levar o guarda-chuva. Ou não, talvez haja a necessidade de tomar um bom banho de chuva para acordar. Acordar pra vida. Acordar pro tempo. Acordar para os detalhes. Talvez seja isso o mais urgente: condicionamento visual. Uma coisa que aprendi é que a ilusão às vezes funciona melhor do que um par de óculos.

Cada parágrafo está desconexo, porque é exatamente como o mundo está - o meu, talvez. É um texto diferente e quero usar mais "às vezes" em vez de certezas. Certezas só existem até alguém duvidar delas. Nada está certo e nem tem um prazo para ficar. Talvez as únicas certezas da vida sejam a nostalgia e a morte, que não têm dia marcado na agenda para chegar. Pode chegar rápido ou demorar uma vida, mas sempre virá. Embora a segunda a gente consiga enganar mais vezes.

Os dias precisam melhorar, e para isso precisamos mudar nosso cardápio - ou nosso roteiro. É tempo de escolha. Podemos ouvir o que não queremos ou aumentar o volume do fone de ouvido (funciona bem para mim). Podemos atender uma ligação indesejada ou colocar o celular no bloqueio automático. Podemos fazer vista grossa e continuar deixando nos iludirem ou podemos abrir os olhos para as oportunidades que aparecem bem abaixo de nossos narizes. Podemos ler livros e frases de auto-ajuda, ou podemos passar a escrevê-los.

Paulo Coelho é bacana, mas totalmente ilusivo: é fácil usar frases genéricas para atingir todas as partes. Quero ver o contrário, que é enxergar cada pessoa, momento e sentimento e dizer algo direcionado e especial apenas para ele. Desconexão não é abrangência, é negligência. Agradar a todos - quando não levado para o lado filantrópico - é trazer desagrado para si mesmo, e mentir para si mesmo é o maior pecado da vida. Tente agradar a si mesmo que o resto vem junto. Acredite numa coisa: nada está bom o suficiente. Se você está feliz, duvide disso também.

Minha maior certeza é a incerteza.
Graças a Deus.


André N. Bueno
@dedenb

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Eu te desafio. Você aceita?

Desafio:
subst. m.
1. estímulo, provocação: responder a um desafio
2. jogo: um desafio de futebol

Já se sentiu desafiado por alguém? Já? E qual foi a sua reação: dar a cara a tapa e talvez conseguir algo, ou sair correndo fugido e de mãos abanando? Acredito que responder pode ser complicado, né? Ainda mais porque a resposta também é complicada. Ao invés disso é melhor perguntar: "O que vou ganhar com isso?". Pois é, se responder algumas perguntinhas já está sendo difícil, imagina então realizar grandes proezas (às vezes pequenas para outros, mas gigantescas para nós) e assumir grandes riscos. Falar sobre "desafio" já está sendo um desafio logo no primeiro parágrafo, e confesso que está difícil pra caramba.

Quando criei esse blog, por exemplo, eu era um nada. Isto por que não sabia muito e não almejava o topo. Entretanto, eu tive um contratempo, porque eu gostei de escrever. Eu fazia textos, eu fazia títulos, eu fazia pautas e tudo isso com diversão. No entanto, o que passa a ser feito com amor é valorizado, e em meus textos tinha amor. Havia carinho em cada frase, palavra e letra, e as pessoas notavam isso e me incentivavam a sempre fazer mais. Elas gostavam de ler o amor em frases sinceras escritas por dedos "sem jeito", e queriam mais.

O problema é que quando algo é criado e passa a ser levado à sério, as pessoas passam a pertencer à criação daquilo também, e exigem uma continuação natural. Isto em tudo na vida. Relacionamentos, compromissos e todos os variados tipos de coisas que você dá um início. E é exatamente nesse ponto que surgem os desafios. Os outros esperam uma tentativa da sua parte e, se você não progredir, os frustra. Em contraponto, se você não tentar, você mesmo se frustra, o que pode ser muito pior. Ou seja, você não precisa da provocação das pessoas para você se mover, pois a vida te dá um pé na bunda (no sentido figurado, ou não) se você ficar parado.

O problema da vida é que ela te vicia aos desafios. Semelhante aos carros que precisam de gasolina para andar, você não é ninguém quando passa a viver sem desafios. Quando acaba o primeiro, você procura o segundo, e assim sucessivamente. O vício se dá na primeira experiência. É como amor à primeira vista, mas é forte como a paixão. É adrenalina, é dependência, é inquietação. Após o primeiro desafio, já era: você não é mais o mesmo. Você é um drogado, um viciado que não consegue ficar parado, porque isso te frustra. Sua mente se torna seu melhor amigo e seu maior inimigo.

E quando não consegue realizar um desafio? Isso não existe. Um desafio nunca morre, só hiberna. Surgem outros desafios, mas o outro não é esquecido por que ele te frustra, e frustração é o câncer do cérebro e do coração humano. As pessoas não conseguem viver com frustrações, e não querem isso também. Ironicamente o medo da frustração vira combustível para agir. Por outro lado, há os esportistas, que são os fanáticos. Falar de um fanático é como falar daquele feioso da balada que não tem nada a perder. Eles não se importam com o que acontece, pois só querem vencer. E usam todos os atributos para ganhar. Eles são determinados. Mostram qualidades, mostram que são simpáticos, competentes e até que podem ser bons pais, mas não tem nada a perder e não suportam uma rejeição.

Devemos ser os feiosos da balada para alimentar o nosso vício. Devemos enxergar a vida sempre como desafio, pois é exatamente o que ela é. Ela vai te frustar, vai. Sempre haverão frustrações no caminho, mas só conseguimos caminhar se desviarmos o foco dos buracos e pensar no objetivo. É tudo uma questão de ponto de vista. Eu posso muito bem encarar um desafio como uma possibilidade de frustração e acabar tropeçando nos meus medos, mas posso encarar como com uma possibilidade de vitória e caminhar a estrada da vida com um sorriso no rosto e com tesão por desafios. A partir desse dia, desafio dado é desafio cumprido - mesmo quando comprido.


André N. Bueno

Ao meu irmão George Bueno fica os meus parabéns pelo ingresso ao mestrado. Ele sem dúvida é um feio da balada. =)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Voltei, pois estava com saudades.

Bateu saudade e não nego. Afinal, tive meus melhores momentos aqui. Foi daqui que surgiu a maioria dos meus pensamentos, dos meus sentimentos e, claro, a maioria dos meus tormentos. Foi aqui que conheci o meu céu e também o meu inferno pessoal, ou foi quando cheguei mais próximo disso. Foi quando me dei o luxo de sair do purgatório por um momento à procura de algo novo para experimentar - confesso que foi uma das minhas melhores experiências, senão a melhor. Foi nessa relação (se assim posso chamar, “relação”) que aprendi que dedicar tempo é fundamental para construir algo, e que um mísero segundo ergue mais do que uma pilastra de concreto. Aprendi aqui que nós só nascemos com duas pernas por que temos que dar um passo de cada vez. E só me dei conta disso após cair de cabeça.

Você me mostrou que sou teimoso e insistente, e que insistir em um erro pode ser o meu maior acerto. Afinal, você sempre será a minha eterna contradição. Sempre será meu prêmio e minha decepção. Mas eu também fui assim. Fui prêmio, porque fui ganhado; decepção, por não satisfazer suas exigências. Minhas intenções sempre foram as melhores, confesso, nunca quis errar ou fugir. Mas de que adianta, né? De boas intenções o inferno está cheio. Desculpa por tudo, tive que voltar. Não estava aguentando mais essa distância. Nunca estive tão perto e tão longe simultaneamente de alguma coisa, como agora. Mas tenho que admitir: a distância me fez bem. Fez bem por que me mostrou a minha dependência por você, droga.

Pode parecer prepotência, mas eu sei que você também sentiu a minha falta. Não segurei minha curiosidade e observei você de longe durante muito tempo. Vi que estava vazia, que faltava-te algo. Faltava-te a mim, pode confessar. De longe. Sabia que sentia falta da minha presença, e saudade em minha ausência, mesmo quando já presente. Tinha esquecido como era gostoso ouvir a minha voz, sempre moldada com palavras-chave adequadas a nós. Aposto que sentia saudade de como eu bagunçava seu interior com frases mal formuladas em pensamentos verdadeiros. Se eu fosse um pouco mais poeta, chamaria de subjetividade terrorista.

Eu tô de volta, mas com uma condição: quero colocar uma página branca na nossa história e começar dela. Não, não pense que eu estou simplesmente apagando toda a nossa história e tudo o que vivemos. Só estou nos dando a oportunidade de continuar escrevendo ela, pois o último final não foi feliz. Talvez eu arranque as páginas. Acha melhor? Assim eu posso separar as coisas boas das ruins e fazer dois diários. Um seria como um álbum de fotos, com todos os momentos, todas as saudades, todos os aprendizados e um monte de felicidade marcada em folhas amarelas, que relembraria só em lamber o dedo para virar a página. O outro seria como um manual de instrução, que conteria todas inseguranças, as ausências e mais aquela lista imensa de coisas que não devo mais cometer.

Desculpa se te deixei esperando. Tô de volta, blog.


André N. Bueno

quinta-feira, 7 de julho de 2011

As três fases da vida.

Já nasci levado e sapeca, com o joelho ralado e sujando a cueca. Já tomei muito esporro da mãe por sujar a porta da vizinha de lama, brigar com irmão, tirar nota baixa na escola, além de tapa na boca por xingar. A infância é linda, e a curiosidade mais ainda. Grande parte de tudo o que aprendemos na nossa vida foi aprendido na infância, sem dúvida. Só com o passar dos anos que você nota que todo e qualquer brigueiro que você toma quando criança remete quase e exclusivamente para aquela época. Percebe então que cada época tem as suas regras e, dentre de tudo, seus limites, aprendizados, esporros (que nunca te largam) e elogios. Sim, elogios. O elogio é o que mais nos aproxima das pessoas. Embora já tenham errado tanto quanto - ou mais ainda - do que nós, os elogios são a forma encontrada pra dizerem "Você está ficando bem parecido comigo". E nossas 'quebradas de regra' são o jeito que encontramos pra dizer "Te admiro, tenho-te como referência, mas quero ser diferente". O tempo passa e a gente passa de fase. Entramos na adolescência. Fase essa que também tem sua beleza. É a fase dos amores e da loucura. Você aprende que consegue amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Na verdade, você não aprende, mas sabe que consegue. Mas também não tinha outro jeito, porque a adolescência é a fase dos corações partidos. Tantos amores de cinema declarados em cartinhas anônimas, flores de plástico, versos parodiados e guardanapos com marcas de batom. Tempo bom a adolescência. Pouca responsabilidade e um mundo pra conhecer. E, se voltasse às 22h como a mãe sempre pedia, não ficava de castigo e poderia conhecer mais ainda no dia seguinte. E ficamos bons anos na vida boa, nos apaixonando diariamente e tirando a média na escola pra sair com os amigos para aquelas festinhas americanas em que você sempre levava o refrigerante, espertinho. Acaba a adolescência e, com isso, chegam as responsabilidades. Vestibular, faculdade, estágio, primeiro emprego, namoro sério, casamento, falta de tempo, contas a pagar, filhos, contas a pagar, falta de tempo e mais responsabilidade. A fase adulta é aquela fase saudosista em que se sente saudade das outras. É quando notamos que a vida é uma eterna ironia. Quando a gente é criança, queremos crescer. Quando crescemos, queremos voltar a ser criança. Tudo se passa rápido demais por nos focarmos na política do 'pouco': ouvimos pouco, paramos pouco, lemos pouco, observamos pouco, amamos pouco. Resumindo: vivemos pouco. Se soubéssemos disso no período vivido, daríamos mais atenção. Daríamos mais atenção aos esporros dos pais, aos elogios. Por sentir saudades, brigaríamos mais com o irmão, tiraríamos mais notas baixas na escola, só pra ter os pais mais próximos ainda. Quebraríamos mais regras, nos apaixonaríamos mais e, consequentemente, tomaríamos mais 'nãos'. Teríamos dez namoradas na adolescência. Mandaríamos mais bilhetes, cartinhas, poemas, flores, versos parodiados e guardanapos com marcas de batom. Faríamos mais vestibulares, faculdades, estágios e teríamos mais namoros, filhos e contas pra pagar. Mas faríamos isso de forma pausada, aproveitando tudo o que temos direito. E, no final de toda essa jornada, se perguntassem se tive uma boa vida, responderia que nasci levado e sapeca, com o joelho ralado e sujando a cueca, e que levei toda essa energia pro resto da vida.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A vida é colorida. Só falta a gente descobrir isso.

Temos que colocar na cabeça que tudo já é difícil por natureza, e que ficar reclamando só piora ainda mais tudo o que já temos que aguentar. O melhor jeito, por isso, é começar a tratar a vida como uma enorme aquarela. Por que, se pensarmos bem, é exatamente o que ela é. Uma aquarela grande, colorida, com seus espaços, percepções, sensações e vontades de mudar. Assim podemos nos transcender de tudo e passear por entre as cores. Seria lindo, não é mesmo? Percebendo a força das cores, maquiamos os problemas e damos força ao que realmente importa. Assim fica mais fácil de encararmos tudo sem medo e resolver o que temos que resolver. E digo mais: se fôssemos espertos, usaríamos as cores como aliadas, ou você acha que as árvores são verdes por acaso? Lógico que não. A esperança do verde é exatamente o que a gente precisa quando fica preso no trânsito e corre o risco de chegar atrasado no trabalho. Cada dia vivido é mais uma oportunidade de perceber que é impossível não perceber as cores, porque estão em tudo. Em tudo mesmo, inclusive em coisas que devíamos esquecer, como em nós mesmos e na nossa ridícula discriminação racial em 'branco', 'pardo' e 'negro' - sem contar nos nossos amigos 'amarelos'. Ainda bem que para compensar isso, fazemos questão de lembrar das piadinhas horríveis que ouvimos todos os dias, que vão desde 'o que é um pontinho amarelo' até às perguntas sobre o porquê do azul do céu - a resposta, aliás, é muito ruim. O mais bacana disso tudo é que as cores são contrastantes até nos próprios significados que elas dão à vida. O azul pode ser triste, mas se fica tudo 'blue', é lindo. O vermelho de sangue não é mais vermelho do que seu significado num coração de pelúcia. O verde lembra as florestas, mas também nos dá a esperança de que um dia os nossos filhos também as conhecerão. O amarelo de fome nunca será tão forte quanto a força do amarelo do sol. O preto do luto não é tão classudo quanto o usado no terno do seu casamento, e o branco das queimadas e da fumaça das bombas de guerra nunca será tão branco quanto o da bandeira de paz. Com certeza existem muito mais cores e opções de mostrar que sem cor, nada tem razão. Mas, não consigo colorir mais as minhas palavras e, por isso, acho que devo desculpas a vocês pela falta de cores no meu texto. É porque realmente deu branco.


André N. Bueno

terça-feira, 14 de junho de 2011

Aprendendo a vi(ver).

Sempre quis saber um pouco mais sobre o ser humano, aprender um pouco mais sobre tudo o que têm para oferecer. São tantas peculiaridades, tantas particularidades, tantos detalhes tão sensacionais que seria delicioso voltar a ser criança pra aprender tudo de novo. As pessoas são tão especiais nas suas singularidades que conseguem atrair a atenção de quem quiserem, sempre que quiserem. A minha atenção, por exemplo, já têm. Minha dúvidas são as mais simples, as minhas simplicidades são as mais complexas e as minhas complexidades são as mais duvidosas. E digo isso com propriedade, porque realmente não consigo acreditar que as pessoas também não tenham o mínimo de curiosidade sobre coisas simples do dia-a-dia. Tipo saber de onde vem a vermelhidão das bochechas na hora da vergonha, por exemplo. É algo que passa tão despercebido para alguns, mas que para outros faz tanta falta. Não dá pra crer que conseguem viver tranquilamente sem querer descobrir o mistério da beleza instantânea que a testa franzida oferece àqueles que fazem birra (as mulheres, então, ficam irresistíveis). Como disse: tudo é tão simples, mas tão simples, que também nos faz franzir a testa. De indagação, desta vez. Na minha opinião, todos deveriam se questionar com as coisas idiotas, tal como o ciúme, os joguinhos, as mudanças de gosto, os gostos propriamente ditos e os ditos que ninguém gosta. Eu, particularmente falando, sou curioso por demais, e tento entender muitas idiotices que tenho problemas para encucar. Por exemplo: acho ridículo um homem não querer entender a TPM - um sacrilégio, quase. Sério. Embora também não consiga entender de jeito nenhum, acho fascinante a capacidade que a TPM tem de provocar as mais diversas sensações como risos, choros, vergonhas, nervosismos, timidez, dengo, etc., e que apenas uma barra de chocolate ou um pote de sorvete consegue 'estragar' toda essa festa. Não é maluquice? Que nada. Maluquice é 'cagar e andar' pra vida, não se interessando por isso tudo da maneira que deveria. Temos que parar de tentar ser tão são nesse mundo insano. 'Parar de ser algo' não é se acomodar com outra coisa. Afinal, já falando de loucura, todos são propensos a ser loucos mesmo. É melhor assumir todas as nossas doideras, ignorâncias, trejeitos e mau-jeitos, e tentar observar a vida direito. Não com os olhos, mas com aquilo que bate dentro do peito.

André N. Bueno

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Tchau.


- Vem cá, a gente precisa conversar.
Vou ser bem direto: eu quero terminar com você. E sabe porquê? Por que cansei de esperar. Cansei das suas promessas, do seu fala-fala, da sua mentira maquiada. Cansei de ser feito de gato e sapato. Cansei de ser sempre ouvidos e você nada. Cansei de ficar sem voz.
- Mas eu não fiz nada.
- Exatamente! Não fez. Aí é que tá o problema.
- Não entendi...
- Você é só prosa. Fala, fala, fala e nada. Queria que entendesse que palavras nem sempre satisfazem. Os tempos mudaram, meu bem. Eu te dei abertura para estar comigo em todos os lugares que ia, e o que você fez?! Preferia ficar ao telefone, à distância, com sua voz melosa e suas palavras vazias.
- Também não é bem assim.
- Ah, não é?! Sério, eu te quis como companheiro. Fechei os olhos e te dei a mão, cara. Eu só queria uma surpresa sua. Só queria fugir do meu mundo de mãos dadas contigo. E quem disse que você me levou pra passear? Que nada. A sua preguiça estragou a nossa relação.
- Não fala isso. Sempre me preocupei com você. Sempre fui aquele que teve palavras pra todos os seus sentimentos. Sempre fui o sustento para suas quedas.
- Aí que está. Quem disse que eu só preciso de palavras? Às vezes eu queria você até calado, mas do meu lado. Queria presença. Queria esforço. Queria estar contigo, mesmo com o seu mau-gosto. Mas vou ser justo também, porque reconheço que sempre tentou me fazer rir. Mas sorrir não era o que sempre queria de você. Afinal, ser companheiro não é sempre fazer rir, mas sim, quando fizer chorar, estar do meu lado pra me dar um abraço quente.
- Não faz isso, por favor.
- A gente não está mais em tempo de discutir, meu bem. Acreditei muito tempo no seu lenga-lenga, nas suas palavras com cobertura de glacê, mas não foi suficiente. Eu só queria alguns bons momentos com você. Algumas boas experiências ao seu lado. Mas você não me deu nada. Você não conseguiu entrar na minha cabeça de vez. A paixão não virou amor. Desculpa, sério, mas seu prazo expirou.

- Tchau.


André N. Bueno

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Se escondendo com palavras.

Convenhamos: escrever sobre sentimentos é fácil. Com apenas algumas palavras, e sem fazer muito esforço, pode-se fazer um garanhão num momento. Consegue fazer com que qualquer pessoa se apaixone por você, e sem cortejo (ainda mais no século XIX, quando usavam essa palavra). Quando tinha dez anos, por exemplo, eu costumava ser um cara tão popular com o público feminino que tinha pelo menos umas oito namoradas. Sério. Tá certo que nenhuma delas sabia disso, mas também não disseram o contrário em nenhum momento. Era um segredinho meu. Mas vamos combinar que enganar a sua própria auto-estima pode ter as suas vantagens.

Também se pode utilizar a escrita para o contrário. Em vez de transformar num pegador nato, pode inventar o cara mais tímido do mundo. Aquele que mede as palavras até pra dizer "Bom dia" aos outros. Que nunca vai casar, porque tem vergonha de dar três beijos na bochecha numa apresentação informal. Isso é bom, porque mulheres gostam de caras tímidos. A timidez dá um charme às pessoas, porque esconde os segredos. Afinal, quem não tem segredos, não tem aquele atrativo para a relação. Ser muito transparente banaliza o ser humano - por favor, não confundam transparência com previsibilidade. Isso porque tem muito tímido que dá um show de transparência, e consegue surpreender em tudo o que faz.

Usar as palavras certas pode te levar do 'cume de um penhasco' ao fundo do poço em poucas linhas, porque não tem contato visual. Quem lê interpreta o que você escreve do jeito que acha melhor, mas sempre do jeito dele, porque você não se expõe. Embora possamos estar mentindo pra nós mesmos, o que a gente faz é utilizar o poder da palavra como psicologia - até mesmo psicologia reversa. Se o escritor acreditar no que está sendo escrito, melhor ainda. Afinal, quem não consegue comprar o próprio produto não faz ninguém comprar também. E é aí que a conversa volta para o lado da auto-estima, a maldita.


André N. Bueno

@dedenb

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Ser você é a melhor escolha.

Os relacionamentos são feitos na base da escolha. Pra mim, pode ser morena, ruiva ou loira. Com sorriso no rosto, e não na testa. Corpo violão, mesmo com algumas cordas desafinadas. Que tenha simpatia, mas que não seja uma pra trazer o homem amado em três dias. Com pé-de-galinha, mas que não fique por ai cacarejando à toa. Tem que gostar de piada, e que ria até quando for a própria. Tem que ser delicada até quando violenta. Por exemplo: ao matar uma barata com aquela sua havaiana cor-de-rosa. Precisa ser feminina em todas as situações, até xingando a mãe do juiz no jogo do time preferido. Compreensiva e que me espere na porta, mas não mosca-morta. Uma que cante no banheiro de forma desafinada, mas que seja sempre animada. Que se vista bem, isso inclui aquele pijama surrado que lhe cai como uma luva, ao meu lado. Uma que quando der 'tchau' não se preocupe com o bracinho balançando. Ou melhor, que não me dê 'tchaus', e sim 'até logos'. Com animação de sobra pra fazer qualquer coisa, até nada. Uma que me olhe nos olhos quando for falar, mas também quando não for soltar nenhuma palavra. Precisa ter amor pra dar e vender (deixando claro que isso não é um incentivo para abrir uma feirinha ou uma barraca do beijo). Deve ser brava nas discussões – adoro mulher com cara de nervosa -, mas que se desmonte toda com um simples sorriso. Que grite de alegria e saia correndo pra aumentar aquela música que você tanto gosta que começou a tocar no rádio. Se cantar errado, que diga que quem está errado é o cara da música. Que dance de forma maluca, desenfreada e que não tenha vergonha disso. Se alguém rir, que o chame pra ser ridículo também. Tem que gostar de beber cerveja comigo. Se não gostar, pelo menos seja paciente e entenda que só estou tentando diminuir o consumo alcoólico das outras pessoas. Ah, se ficar bêbada, que seja engraçada e carinhosa, e não fique de cara emburrada por qualquer besteira. Falando nisso, tem que gostar de besteiras, porque ‘besta’ é o meu nome do meio. Precisa gostar de música. Se for possível, fique me ‘tietando’ na frente do palco quando eu estiver tocando. Tem que ser inteligente – mas se não for, seja ao menos esforçada. Precisa ter vontade de ganhar o mundo todos os dias, principalmente se for o meu. E, mesmo após tantas escolhas e condições, eu só quero que despreze tudo e seja apenas você. Afinal, foi o porquê de eu te escolher.

André N. Bueno

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sabedoria de menos.

Busco sempre entender atitudes, gestos, pessoas, opiniões, gostos, hobbies e mais um monte de parafernálias que rodeiam a minha vida. Tudo isso em vão. É tudo tão mais complexo do que imagino, que meus poucos anos vividos não são suficientes para acompanhar e compreender nem 10% de todo esse conteúdo maluco que a mídia especula. Imagina o resto que não tenho conhecimento nem da existência? Reconhecendo a minha ignorância, me preparo para a guerra.

É exatamente isso o que digo: A soberba predomina e a humildade se retrai, recheando o mundo com “especialistas” que não sabem nem quem são, muito menos o que são capazes de fazer. O egocentrismo se torna a venda nos olhos de indivíduos que se dizem sapientes, mesmo pertencendo a uma sociedade totalmente fugaz e cujo conhecimento é tão volátil quanto à idade-útil de um periódico qualquer. A “cegueira moderna” se tornou ainda mais freqüente com a popularização da internet, que tem a capacidade de omitir a realidade e possibilitar a criação de personagens que norteiam o seu conhecimento em frases de Clarisse Lispector e definições da Wikipédia.

Só nos resta, nesse infinito de informações, tentar desenvolver pequenas habilidades de filtragem que no contexto dito se aproximam muito mais de um processo de reciclagem do que de absorção. Sendo o mais franco possível, tem porcaria presente em quase totalidade das coisas que presenciamos, clicamos, assistimos e interagimos; mas, para não me mostrar totalmente radical, assumo que se apertarmos os olhos conseguiremos enxergar algo legal e apreciável. Me contradizendo, isso só será possível a partir do momento em que criarem a definição para “bom” e “ruim”. Enquanto não existe, a melhor alternativa é consumir de tudo. Afinal, um dia pode vir a ser útil, não é?

Por isso que mantenho minha postura de ignorante, pois sei que se me posicionar como tal, ‘menos’ pode ser ‘mais’. A internet é uma ferramenta e não uma ditadora de comportamento - quem faz isso são as pessoas. O que não impede seu uso para o meu eterno cultivo na plantação de curiosidade, fortalecendo pra essa guerra e esse bombardeio constante de informação. Mas com um porém: de olhos abertos. Se mais pensassem assim, teríamos um mundo mais observador, curioso, humilde, compreensivo, menos especialista e que, talvez, na hora da urna, votariam em ter sabedoria de menos.


André N. Bueno

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Liberdade de "cabresto"

“Então, a idéia é a seguinte: eu preciso aumentar as minhas vendas. Vocês têm toda a liberdade pra criar a campanha”. Preste muita atenção no que eu direi, pois quando um cliente disser exatamente isso que foi explicitado nas aspas, o seu mandato de prisão vai ser mandado para junto com uma pílula de paciência. Pois acredite, você vai precisar bastante.

Não adianta, seres humanos foram criados para viver em sociedade, um precisando da ajuda do outro. Só pra dar o exemplo mais claro de todos, nós somos tão dependentes das pessoas que até pouco antes de parecermos “gente”, precisávamos de ajuda até para respirar. Acredita nisso? Pois é verdade. E essa dependência vai ser aplicada em todos os momentos da vida humana, envolvendo os mais diversos tipos de relacionamento interpessoal - amizade, namoro, casamento e afins - e, conseqüentemente, a maioria das atividades que exerceremos. Toda esse lenga-lenga é para fazer uma breve homenagem às mães, que têm o seu dia comemorado nesse domingo próximo (mãe, te amo), mas também para adentrar em um assunto que é totalmente pertinente não só ao universo materno quanto ao universo publicitário: a liberdade.

Para isso, vamos fazer uma rápida viagem à infância e relembrar os momentos em que pedíamos às mães pra brincar no terreno baldio na frente de casa. Conseguem lembrar a primeira pergunta feita por ela? "Quem vai com você?", seguido de afirmações como "Volte às 22h" e "cuidado". Hoje, se pensarmos melhor, dá pra notar que a liberdade que tínhamos era uma falsa liberdade, uma "Liberdade de cabresto", pois podíamos brincar sem as mães e fazer a bagunça que queríamos, mas nunca tiramos as rédeas de fato. Melhor assim, porque liberdade sem direcionamento é como um buraco sem fundo: a gente nunca sabe em que lugar vamos parar, e se aquilo vai ser bom pra gente.

Levando para a publicidade, o excesso de liberdade seria exatamente o que esse cliente do primeiro parágrafo está fazendo, pois ele nos dá espaço, mas não direcionamento. É praticamente como viajar numa estrada sem placas. Sem a informação, não se chega em lugar nenhum e a tendência vai ser voltar. No caso específico, quem volta é o job. É sério, nem mesmo as idéias mais brilhantes servem se não forem pertinentes às necessidades da empresa. Por isso, precisamos da antes dita "liberdade de cabresto", que é a liberdade com zelo e cuidado que nossa mãe sempre nos deu ou, nesse contexto específico, o bom e velho briefing.

O bom briefing nos dá a possibilidade de viajar sem perder o rumo do pensamento. E digo mais: noites e mais noites de criativos são assombradas pelos briefings-monstros do dia que passou. Quanto mais se reza, mais assombração aparece, mas dessa vez em forma de job. Eu falo tudo isso porque comparo um job bem feito à uma casa bem construída. Tem base, sustentação, parede e telhado. Ou seja, tem pesquisa, planejamento, criação e feedback. Cada componente que falta é uma chance de desabar.

Por isso, como você não quer ver o negócio do seu cliente desabando, seu chefe perdendo dinheiro e você sendo despedido, perca aquele tempo precioso que eventualmente aparece para ver as porcarias na internet ou jogar paciência, mas extraia o maldito briefing direito. No final, contrariando tudo que é lei existente, ao invés da sua mãe dizer, será você quem dirá "Viu? Eu te avisei".


André N. Bueno

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Namorada Perfeita

Buscando ser o mais direto possível, diria que o dia-a-dia de uma agência de propaganda se resume em refação, ou retrabalho. O grande problema é que as pessoas vêem isso com os olhos errados. Todo trabalho dá trabalho, eu sei, mas já que vai ter que se esforçar de qualquer forma, porque não fazê-lo direito e visando concretizar uma idéia interessante? Claro que existem diferentes formas de um trabalho voltar, e que voltar um job de um diretor de criação é totalmente diferente de voltar um daquele cliente que ocupa suas tardes com dores de cabeça. Mas, se você gosta e quer trabalhar com criação (seja redatores com seus "especialistas", seja diretores de arte com os seus "manobristas de layout"), vai se deparar com isso em sua rotina. A pergunta a ser feita é: como passo a olhar a refação da forma certa?

Tá, vamos combinar que essa se trata de uma pergunta um tanto quanto difícil. Afinal, ninguém gosta de ficar fazendo a mesma coisa incontáveis vezes até atingir o cansaço. E cansa mesmo, confesso, mas a gente busca driblar essa sensação ruim com o foco - palavra mais usada por todos os tipos de profissionais; e, óbvio, que não deixa de ser uma verdade. Não a única, claro, mas se trata de uma verdade sim. Ser focado é muito importante no processo de refação, pois é isso que vai nos impedir de fugir do nosso campo de atuação e, conseqüentemente, nos fazer olhar errado.

A refação tem que ser vista como um processo para arrumar a namorada perfeita. É exatamente isso! Começa com a escolha do ambiente. Afinal, especialistas dizem não ser muito aconselhável arrumar aquela "garota dos sonhos" na micareta. Ambiente escolhido, agora é hora da abordagem - que talvez seja o momento mais difícil para a maioria dos homens. Você planeja todo um discurso, treina no espelho e vai em direção a menina com toda confiança do mundo, que sem pensar em nada lhe dá um corte - ou veto, toco, "não", como preferir. Muitos vêem essa primeira patada como definitivo, e é exatamente aí que mora o erro. Você ganhou uma segunda chance, criatura! Agora tem uma pista de algo que ela não gosta e pode agir diferente. É hora de refazer a estratégia, o discurso e ir novamente. Cada patada - ou cada refação - é um passo mais objetivo e pensado, e o mais importante: sempre pra frente.

O problema dos criativos iniciantes (digo isso porque realmente são os que ainda não entenderam a importância de tal), ou de qualquer profissional que necessita utilizar essa prática, é que eles não conseguem enxergar o retrabalho como necessário para alcançar a "lábia" perfeita e conseguir finalmente conquistar a menina mais bonita, inteligente e gente boa do colégio: que em seu anúncio seria o supra-sumo da genialidade; aquela puta idéia; enfim, a sacada genial e única. Acreditem ou não, é complicado uma mulher cair no primeiro xaveco, porque, querendo ou não, ela também quer testá-lo e ver o que você tem para oferecer. Se rolar rápido, não é duradoura. E com uma idéia é a mesma coisa. Ela não vem em direção a você sem esforço. Quer testar sua mente ao máximo e ver se é capaz de "desnudá-la".

Por isso, querido colega de trabalho (ou de outra profissão), como forma de um apelo emocional que visa melhorar a propaganda brasileira, quiçá mundial, peço encarecidamente que passe a ter um olhar diferente para aqueles jobs que enchem o seu saco ao voltar uma, dois ou três vezes. Pois como você sabe muito bem, é muito melhor jogar a vara várias vezes até fisgar um marlin, do que ficar jogando a sua tarrafa apenas uma vez pra pegar um monte de piaba.


André N. Bueno

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Estagiário

Explicando de modo simples: "Ei, pega aquilo, faz isso, vai lá e depois volta aqui. Ah, e não esquece do cafezinho". Mas agora falando sério, de simples não tem nada. Ser estagiário é foda! Me desculpem a palavra, mas é talvez a tarefa mais difícil que se pode designar a um pobre estudante, e por apenas um motivo: nunca é apenas uma tarefa pedida. O problema não é o excesso de trabalho - só justificando para não oferecer outras interpretações -, mas sim a exploração consciente e filantrópica dos seus chefes (afinal, ele faz isso pro seu bem. Não?). Mas buscando um modo de amenizar isso tudo, descobrimos que estagiário é estagiário em qualquer lugar, independente de curso, raça, estado em que reside, cor e classe social. Ou seja, durante esse período todos vão se ferrar da mesma forma. Então não chorem!

Lembre-se que o princípio básico do estágio é aprender, mas aqui vai uma dica: não deixe que a pessoa que for te contratar saiba disso. Ela não quer saber se você é um estudante que tem facilidade em aprender, mas quer um funcionário eficiente que consiga produzir tanto quando os outros contratados produzem, mas pagando "um pouco" menos. É injusto, eu sei, mas quem disse que a vida é justa né? Portanto, seja no mínimo bom e pronto, você está dentro. Já deu pra ver que de fora tudo é muito diferente. No interior das empresas - no meu caso, das agências -, é notável que todas aquelas burocracias não serão impressas sozinhas, e nem as contas voarão até o banco.

Brincadeiras a parte, o interessante do estágio é buscar sempre analisá-lo com outros olhos, e não julgá-lo como aquela criança chinesa que trabalha doze horas por dia produzindo alguns tênis da Nike - embora haja uma leve semelhança. Óbvio que devemos olhar com olhos de criança, mas mais do que isso, devemos "namorar" o nosso estágio. Ainda mais se for o primeiro. E é sério. É sem dúvida a melhor época para vivenciarmos a nossa profissão de perto. Coincidentemente, é quando mais erramos também. Afinal, qualquer processo de aprendizado apresenta dificuldade, mesmo que seja mínima, então não se crucifique. Ninguém aprende a andar sem primeiro tomar uns belos tombos. Mas ouse persistir nos erros pra você ver, a mira sempre é a orelha, que será alvo de bons e simbólicos puxões. Não é porque você é uma mão-de-obra barata escrava que deve ficar fazendo besteira, não é mesmo?

Busque utilizar esse tempo para aprender. Embora possam dizer que não, você tem passe livre para bisbilhotar todas as áreas e achar a que você mais tem afeição. Depois de ter o seu trabalho feito (ou seja, antes que lhe enviem outro job), vá sentar atrás das pessoas da empresa e descobrir o que elas fazem. Faça perguntas e observe. Seja curioso, mas não seja mala. Estagiário tem passe livre para aprender e não para atrapalhar, lembre-se disso. Use a criatividade e outros clichês atuais a seu favor, tal como a famosa "proatividade". Seja espontâneo e ofereça ajuda quando não estiverem precisando. Você é um "realizador de serviços", ou seja, seu único trabalho é ajudar, não importa quem e nem como.

Todo aprendizado é válido e, de coração, espero muito que toda essa merda que eu joguei no ventilador possa ser utilizada num futuro próximo por você que leu isso aqui e está a procura de um estágio. A minha intenção era fazer um texto "salva-vidas", para que cometam um pouco menos de besteiras, mas também que seu conteúdo seja duradouro. Não deixe que a realidade do mercado lhe dê um banho de água fria. Nunca se esqueça que a grande maioria das empresas têm pelo menos um de vocês no time deles. Se estagiário não fosse bom, todo mundo os deixava na reserva, não é? Agora, já que você está no horário de trabalho à toa e já terminou de ler todo o texto, que tal correr e adiantar aquele cafezinho?


André N. Bueno

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Incômodo.

Não estar presente sempre em algo que gostaria de estar - como nesse blog, por exemplo - é um dos meus motivos de estar escrevendo para vocês. Eu criei esse blog em um momento único da minha vida. Estava desempregado, sem estágio e com muita lucidez e vontade de ser algo, de ser alguém. Esse sentimento era como fogo que ardia em mim de uma forma tão intensa que me incomodava muito, e eu sabia que precisava fazer algo para começar a alimentar essa minha fome de ser "grande". Mas eu não estou aqui pra falar de mim, e sim mostrar que tudo o que eu sentia antes, e continuo sentindo hoje, é algo que vocês podem cultivar e colher para vocês também. Conheçam então a importância do incômodo.

Incômodo. Para muitos, só a pronúncia dessa palavra já é mais do que suficiente para remeter a sensações horríveis, experiências e lembranças antes vivenciadas que não foram agradáveis em algum momento da vida. E a experiência ruim, em seu geral, faz o ser humano criar uma válvula de escape para situações parecidas, que é buscar sempre a tranquilidade de todas as formas possíveis. Mas as pessoas não conseguem entender que o objetivo da vida não é a procura da tranquilidade, mas sim o eterno combate ao incômodo. Será que deu pra entender? É mais ou menos assim: quem almeja alcançar as estrelas, antes já ficou incomodado de estar sempre caindo de nuvens.

Não deveríamos tratar o incômodo como um obstáculo, mas como combustível. Muitos foram os incomodados que souberam utilizar dessa "pedra no sapato" para conseguir seguir adiante. Sei que parece auto-ajuda, mas não é. Duvido que exista tantos livros que demonstrem esse tipo de sentimento em suas linhas dessa forma. A franqueza vem com a vivência, e a minha certeza é confirmada de forma experimental. Vocês não acreditam que Steve Jobs, Bill Gates, Napoleão, Gandhi e Hitler, por exemplo, são/foram grandes homens? São inúmeros os exemplos de incômodo, e em diferentes intensidades. São exemplos vivos de que o incômodo os leva às montanhas e, se não levar, as trás para perto.

E não precisamos ir tão longe para notar tudo isso. Basta começar a olhar para dentro de você mesmo. Passe a observar a sua rotina com mais afinco e veja o que é 'pra você' e o que não é de seu agrado. Alimente sua mente com indagações e opiniões próprias, pois são elas que vão lhe moldar. É sabendo o que se quer que se cria coragem para dizer "não" ao que não quer. Comece a observar a vida como um complexo de praias. É sabendo o que você quer que você poderá andar em suas próprias praias e permitir que mais areia entre a cada passada. Depois da chegada onde deseja, é hora de sentar, retirar a areia do tênis e tomar uma água de coco, mas sempre lembrando que vão ter ainda muitos quilômetros de belas praias pela frente, e que você só pode parar quando seu tênis estragar, ou quando não conseguir mais andar. Se isso não lhe incomodar, é claro.

E ai, quão intenso é o seu incômodo?

André N. Bueno

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Depoimento.

Se estou aqui, não foi porque caminhei sozinho. Cada detalhe foi/é importante nessa luta. Nada eu seria sem as xícaras de Toddy trazidas todas as manhãs pela vovó. Sem o amor contido no beijo de "boa noite" da mamãe. Sem os momentos de descontração, de pagode, de ajuda (que foram muitos) e, claro, de compreensão dos amigos. Nada eu seria. Agradeço a Deus por tudo e por todos. Tudo isso é apenas o começo. O fim só vai passar a existir no momento em que eu acreditar nele. Talvez um dia eu acredite, reza a lenda.

André N. Bueno

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Perseverança.

Estou frente a um desafio: falar sobre "perseverança" para pessoas que precisam dela. Mostrar para essas pessoas o que é ser perverante. E o mais importante, que é mostrar pra elas que é preciso sempre perseverar, não importa a situação que estejamos vivendo. Existe trabalho mais difícil do que esse? É como vender uma coisa não palpável como se ela pudesse ser tocada. É algo complexo e, ao mesmo tempo, simples. É algo singular, mas que é totalmente adequado ao coletivo. E o grande problema não está em vender algo, mas em descobrir a melhor forma de abordagem para tornar esse algo útil, desejável, adequado aos olhos seus, e não aos meus.

Poderia pegar um milhão de exemplos sobre perseverança, tal como vestibulandos, Rocky Balboa e Ronaldo "Fenômeno", mas vocês já estão cansados de ouvir os mesmos exemplos e eu não quero atrapalhá-los com algo que não lhes acrescenta nada. Ainda mais porque o Ronaldinho se aposentou, o Rocky se tornou uma lenda do cinema e os nossos amigos vestibulandos, bom, são história repetida em todos os anos. São belas histórias de luta e amor, confesso, mas continua sendo distante da nossa realidade. É mais adequado falar daquela menina linda que você vive tomando cortes, ou daquela vaga de estágio/trabalho que você quer tanto que, mesmo não podendo, atrasa sua faculdade e sua vida para consegui-la. A gente só pode falar de perseverança quando notamos a existência de uma linha tênue entre as palavras "atrasar" e "adiantar", e perceber que quanto mais caímos, mais aumenta a nossa vontade de chegar aonde a gente almeja.

E, após enrolar vocês até agora, continuo a me perguntar: afinal o que é perseverar? Perseverar é não saber o que escrever e, para buscar inspiração, vai beber água e fica viajando com a porta aberta. É comprovado que as melhores idéias surgem quando se está de frente para a geladeira ou embaixo do chuveiro. É ficar andando às 2:58 da manhã - enquanto todos dormem - a fim de buscar uma luz para digitar algumas poucas linhas aqui. Tudo isso em vão. Perserverar é continuar acreditando em você e prosseguir com a caminhada, mas sabendo que haverão quedas e, claro, que cada queda é um passo a frente que você dá.

André N. Bueno

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Metas para 2011 e Posteridade.

Eu já estou começando o ano de 2011 quebrando algumas regras, o que é um pecado. Ou melhor, pecado não é, mas é feio e contra o meu pensamento sobre o ritual "virada de ano". Então, para tentar acabar com isso, resolvi delimitar algumas metas para seguir, afim de conseguir uma prova escrita para ficar me cobrando.

1) Ler mais:
Esse, sem dúvida, é o hábito que eu mais quero ter a partir de agora. O esforço que farei vai ser para que seja lido um livro pro mês, no mínimo. E não me amedrontarei com a quantidade de páginas do livro. Bom, isso eu não garanto, mas vou tentar. Yeah, yeah!

2) Escrever mais, e melhor:
Esse segundo tópico é quase o "amorzinho" do primeiro. Vou quebrar a cuca para que esses dois tópicos andem de mãos dadas sempre. Vai ser quase uma relação de dupla-troca. É sério! Além do mais, o "Mostre sua Ideia" precisa muito desse meu esforço inicial. Se eu não o fizer, ele vai falar que não estou dando a devida atenção. Aí já viu...

3) Buscar mais referências:
Essa é uma desculpa boa que eu tenho para viajar, para ler, ir ao cinema, praia ou teatro, para sair da rotina com mais frequência. Refrescar a memória com conteúdo novo é sempre interessante para o que eu pretendo levar como vida.

4) Estudar mais:
Quero fazer mais cursos, me capacitar cada vez mais. Embasar a prática com a teoria, mas não perder minha característica. Quero saber como é que os profissionais de fora do estado, e do país, pensam. Saber de que fontes eles bebem.

5) Ir atrás, com "sangue nos olhos", do que eu quero:
E, como diz o clichê mais conhecido de todos: "Os últimos serão os primeiros". E é assim mesmo que termino essas metas. Terminar de forma cíclica. Vamos fazer do mundo um presente de criança e pedi-lo de aniversário para os pais. Mas, além da birra, fazer por onde. Algum dia eu ainda ganho o mundo.

Me cobrem, ok?!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

The Pink Squad

A Union Insurance é uma companhia de seguros na Eslováquia que está entre as 10 maiores do país em seguros de carros. A empresa então resolveu lançar um desafio para a agência Wiktor Leo Burnett: realizar uma campanha nunca feita antes, que comunicasse os baixos preços de seus seguros de veículos, mas engajando de forma um tanto diferente e misteriosa os consumidores.

“The Pink Squad” foi a solução. Estamos falando de um verdadeiro movimento, que surge como uma organização secreta, com seus integrantes encapuzados (de cor-de-rosa) e que utilizam as suas próprias formas de punir a irresponsabilidade dos condutores pelas ruas no país.

Em poucos dias, muita mídia espontânea e buzz foi gerado pela internet, através de blogs e redes sociais, com milhares de fotos e vídeos documentando as ações desses caras, além dos principais veículos do país que questionavam quem seriam os tais “Vigilantes” mascarados. Tal movimento começou a ganhar nível nacional e pessoas de todo o país mandavam milhares de e-mails e comentários querendo fazer parte da organização.