segunda-feira, 30 de maio de 2011

Se escondendo com palavras.

Convenhamos: escrever sobre sentimentos é fácil. Com apenas algumas palavras, e sem fazer muito esforço, pode-se fazer um garanhão num momento. Consegue fazer com que qualquer pessoa se apaixone por você, e sem cortejo (ainda mais no século XIX, quando usavam essa palavra). Quando tinha dez anos, por exemplo, eu costumava ser um cara tão popular com o público feminino que tinha pelo menos umas oito namoradas. Sério. Tá certo que nenhuma delas sabia disso, mas também não disseram o contrário em nenhum momento. Era um segredinho meu. Mas vamos combinar que enganar a sua própria auto-estima pode ter as suas vantagens.

Também se pode utilizar a escrita para o contrário. Em vez de transformar num pegador nato, pode inventar o cara mais tímido do mundo. Aquele que mede as palavras até pra dizer "Bom dia" aos outros. Que nunca vai casar, porque tem vergonha de dar três beijos na bochecha numa apresentação informal. Isso é bom, porque mulheres gostam de caras tímidos. A timidez dá um charme às pessoas, porque esconde os segredos. Afinal, quem não tem segredos, não tem aquele atrativo para a relação. Ser muito transparente banaliza o ser humano - por favor, não confundam transparência com previsibilidade. Isso porque tem muito tímido que dá um show de transparência, e consegue surpreender em tudo o que faz.

Usar as palavras certas pode te levar do 'cume de um penhasco' ao fundo do poço em poucas linhas, porque não tem contato visual. Quem lê interpreta o que você escreve do jeito que acha melhor, mas sempre do jeito dele, porque você não se expõe. Embora possamos estar mentindo pra nós mesmos, o que a gente faz é utilizar o poder da palavra como psicologia - até mesmo psicologia reversa. Se o escritor acreditar no que está sendo escrito, melhor ainda. Afinal, quem não consegue comprar o próprio produto não faz ninguém comprar também. E é aí que a conversa volta para o lado da auto-estima, a maldita.


André N. Bueno

@dedenb

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Ser você é a melhor escolha.

Os relacionamentos são feitos na base da escolha. Pra mim, pode ser morena, ruiva ou loira. Com sorriso no rosto, e não na testa. Corpo violão, mesmo com algumas cordas desafinadas. Que tenha simpatia, mas que não seja uma pra trazer o homem amado em três dias. Com pé-de-galinha, mas que não fique por ai cacarejando à toa. Tem que gostar de piada, e que ria até quando for a própria. Tem que ser delicada até quando violenta. Por exemplo: ao matar uma barata com aquela sua havaiana cor-de-rosa. Precisa ser feminina em todas as situações, até xingando a mãe do juiz no jogo do time preferido. Compreensiva e que me espere na porta, mas não mosca-morta. Uma que cante no banheiro de forma desafinada, mas que seja sempre animada. Que se vista bem, isso inclui aquele pijama surrado que lhe cai como uma luva, ao meu lado. Uma que quando der 'tchau' não se preocupe com o bracinho balançando. Ou melhor, que não me dê 'tchaus', e sim 'até logos'. Com animação de sobra pra fazer qualquer coisa, até nada. Uma que me olhe nos olhos quando for falar, mas também quando não for soltar nenhuma palavra. Precisa ter amor pra dar e vender (deixando claro que isso não é um incentivo para abrir uma feirinha ou uma barraca do beijo). Deve ser brava nas discussões – adoro mulher com cara de nervosa -, mas que se desmonte toda com um simples sorriso. Que grite de alegria e saia correndo pra aumentar aquela música que você tanto gosta que começou a tocar no rádio. Se cantar errado, que diga que quem está errado é o cara da música. Que dance de forma maluca, desenfreada e que não tenha vergonha disso. Se alguém rir, que o chame pra ser ridículo também. Tem que gostar de beber cerveja comigo. Se não gostar, pelo menos seja paciente e entenda que só estou tentando diminuir o consumo alcoólico das outras pessoas. Ah, se ficar bêbada, que seja engraçada e carinhosa, e não fique de cara emburrada por qualquer besteira. Falando nisso, tem que gostar de besteiras, porque ‘besta’ é o meu nome do meio. Precisa gostar de música. Se for possível, fique me ‘tietando’ na frente do palco quando eu estiver tocando. Tem que ser inteligente – mas se não for, seja ao menos esforçada. Precisa ter vontade de ganhar o mundo todos os dias, principalmente se for o meu. E, mesmo após tantas escolhas e condições, eu só quero que despreze tudo e seja apenas você. Afinal, foi o porquê de eu te escolher.

André N. Bueno

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sabedoria de menos.

Busco sempre entender atitudes, gestos, pessoas, opiniões, gostos, hobbies e mais um monte de parafernálias que rodeiam a minha vida. Tudo isso em vão. É tudo tão mais complexo do que imagino, que meus poucos anos vividos não são suficientes para acompanhar e compreender nem 10% de todo esse conteúdo maluco que a mídia especula. Imagina o resto que não tenho conhecimento nem da existência? Reconhecendo a minha ignorância, me preparo para a guerra.

É exatamente isso o que digo: A soberba predomina e a humildade se retrai, recheando o mundo com “especialistas” que não sabem nem quem são, muito menos o que são capazes de fazer. O egocentrismo se torna a venda nos olhos de indivíduos que se dizem sapientes, mesmo pertencendo a uma sociedade totalmente fugaz e cujo conhecimento é tão volátil quanto à idade-útil de um periódico qualquer. A “cegueira moderna” se tornou ainda mais freqüente com a popularização da internet, que tem a capacidade de omitir a realidade e possibilitar a criação de personagens que norteiam o seu conhecimento em frases de Clarisse Lispector e definições da Wikipédia.

Só nos resta, nesse infinito de informações, tentar desenvolver pequenas habilidades de filtragem que no contexto dito se aproximam muito mais de um processo de reciclagem do que de absorção. Sendo o mais franco possível, tem porcaria presente em quase totalidade das coisas que presenciamos, clicamos, assistimos e interagimos; mas, para não me mostrar totalmente radical, assumo que se apertarmos os olhos conseguiremos enxergar algo legal e apreciável. Me contradizendo, isso só será possível a partir do momento em que criarem a definição para “bom” e “ruim”. Enquanto não existe, a melhor alternativa é consumir de tudo. Afinal, um dia pode vir a ser útil, não é?

Por isso que mantenho minha postura de ignorante, pois sei que se me posicionar como tal, ‘menos’ pode ser ‘mais’. A internet é uma ferramenta e não uma ditadora de comportamento - quem faz isso são as pessoas. O que não impede seu uso para o meu eterno cultivo na plantação de curiosidade, fortalecendo pra essa guerra e esse bombardeio constante de informação. Mas com um porém: de olhos abertos. Se mais pensassem assim, teríamos um mundo mais observador, curioso, humilde, compreensivo, menos especialista e que, talvez, na hora da urna, votariam em ter sabedoria de menos.


André N. Bueno

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Liberdade de "cabresto"

“Então, a idéia é a seguinte: eu preciso aumentar as minhas vendas. Vocês têm toda a liberdade pra criar a campanha”. Preste muita atenção no que eu direi, pois quando um cliente disser exatamente isso que foi explicitado nas aspas, o seu mandato de prisão vai ser mandado para junto com uma pílula de paciência. Pois acredite, você vai precisar bastante.

Não adianta, seres humanos foram criados para viver em sociedade, um precisando da ajuda do outro. Só pra dar o exemplo mais claro de todos, nós somos tão dependentes das pessoas que até pouco antes de parecermos “gente”, precisávamos de ajuda até para respirar. Acredita nisso? Pois é verdade. E essa dependência vai ser aplicada em todos os momentos da vida humana, envolvendo os mais diversos tipos de relacionamento interpessoal - amizade, namoro, casamento e afins - e, conseqüentemente, a maioria das atividades que exerceremos. Toda esse lenga-lenga é para fazer uma breve homenagem às mães, que têm o seu dia comemorado nesse domingo próximo (mãe, te amo), mas também para adentrar em um assunto que é totalmente pertinente não só ao universo materno quanto ao universo publicitário: a liberdade.

Para isso, vamos fazer uma rápida viagem à infância e relembrar os momentos em que pedíamos às mães pra brincar no terreno baldio na frente de casa. Conseguem lembrar a primeira pergunta feita por ela? "Quem vai com você?", seguido de afirmações como "Volte às 22h" e "cuidado". Hoje, se pensarmos melhor, dá pra notar que a liberdade que tínhamos era uma falsa liberdade, uma "Liberdade de cabresto", pois podíamos brincar sem as mães e fazer a bagunça que queríamos, mas nunca tiramos as rédeas de fato. Melhor assim, porque liberdade sem direcionamento é como um buraco sem fundo: a gente nunca sabe em que lugar vamos parar, e se aquilo vai ser bom pra gente.

Levando para a publicidade, o excesso de liberdade seria exatamente o que esse cliente do primeiro parágrafo está fazendo, pois ele nos dá espaço, mas não direcionamento. É praticamente como viajar numa estrada sem placas. Sem a informação, não se chega em lugar nenhum e a tendência vai ser voltar. No caso específico, quem volta é o job. É sério, nem mesmo as idéias mais brilhantes servem se não forem pertinentes às necessidades da empresa. Por isso, precisamos da antes dita "liberdade de cabresto", que é a liberdade com zelo e cuidado que nossa mãe sempre nos deu ou, nesse contexto específico, o bom e velho briefing.

O bom briefing nos dá a possibilidade de viajar sem perder o rumo do pensamento. E digo mais: noites e mais noites de criativos são assombradas pelos briefings-monstros do dia que passou. Quanto mais se reza, mais assombração aparece, mas dessa vez em forma de job. Eu falo tudo isso porque comparo um job bem feito à uma casa bem construída. Tem base, sustentação, parede e telhado. Ou seja, tem pesquisa, planejamento, criação e feedback. Cada componente que falta é uma chance de desabar.

Por isso, como você não quer ver o negócio do seu cliente desabando, seu chefe perdendo dinheiro e você sendo despedido, perca aquele tempo precioso que eventualmente aparece para ver as porcarias na internet ou jogar paciência, mas extraia o maldito briefing direito. No final, contrariando tudo que é lei existente, ao invés da sua mãe dizer, será você quem dirá "Viu? Eu te avisei".


André N. Bueno