quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Só pode ter sido aquela oitava onda.

Não tem outra explicação, só pode ter sido aquela oitava onda (considero como onda, mas mais parecia uma marola) pulada sem querer. Digo isso porque as superstições de final de ano são tratadas como um ritual aqui. Tudo é separado em 7, nem mais, nem menos. É feito um check-list "anti-azar" ao melhor estilo preparado pelas avós quando você vai viajar: roupa branca, champanhe, pulseirinha do nosso Senhor do Bonfim, 7 uvas, 7 caroços de romã (romã, cara. Quem costuma lembrar da coitada da romã no ano novo?), chinelo fácil de ser retirado para pular as 7 ondas na praia e a famosa lista de metas para o ano seguinte. Não tinha como dar errado.

Reunião básica com os melhores amigos e alguns membros da família. Ceia farta com muito arroz de lentilha (não podía dar uma chance ao azar em nenhum momento). Celular em mãos para mandar torpedos e fazer ligações aos mais próximos que estavam longe. Uma eterna espera para quinze minutos para meia-noite, quando todos vão para perto da praia esperar os fogos e pular as ondas. Deu meia-noite! Vários abraços, champanhe e milhões de superstições trazendo sorte. E mais champanhe, obviamente, para conseguir pular aquelas ondinhas sem ressentimento. Perto do mar é como se estivesse dentro dele, ou talvez seja o próprio. É o local que a paz aparece de fato: conversas consigo mesmo e definição das metas, orações e desculpas pelas faltas no ano que se passou e, em muitos casos, finalizar tudo com a excelência de 7 ótimos pulos. Cada pulo, um suspiro. Levemente embriagado pelo champanhe - e pelas diversas coisas que tinham na casa -, fui pulando e me divertindo, até que perdi a conta e pulei a oitava onda. E foi aí que abri a janela para que as coisas pudessem dar errado.

Com aquilo que não saía da cabeça de jeito nenhum, uma providência foi tomada: o início das atividades do ano. Um janeiro semi-morto, meio zumbi, totalmente distante de tudo o que foi planejado: resumido em internet e noites regadas à cerveja (o que não considero de todo ruim). Um início em um emprego desgostoso e uma corrida contra o tempo, cheia de riscos e coisas que tinha medo. Nem preciso dizer que o emprego não durou 30 dias, não é? E nem eu nele. Incompactibilidade de genes. Não tinha dúvidas que não havia nascido para aquilo. A química do amor não bateu, como diriam os românticos. E fui correr atrás do amor platônico.

Ah, o amor platônico. Outro ponto fundamental e inesquecível que a oitava onda, a maldita, proporcionou ao meu ano: transformou todos os meus amores em amores platônicos. E não foram poucos não, viu? Com convicção, posso dizer que me apaixonei pelo menos umas 7 vezes (número cabalístico?) por essas pessoas perfeitas demais para me enxergar. Mas eu não ligava. Fazia vista grossa e inventava alguma doença neles para justificar o ato, tal como miopia, hipermetropia, presbiopia ou até mesmo uma queda despretensiosa de olho na pia, vocês sabem como é. Só sei que nada deu certo, e acredito que muitas das vezes, senão todas, foram por minha causa - ironicamente eu prestei muita atenção. Óbvio que não propositalmente. Mas acho que assim como existem pessoas perfeitas demais para te enxergar, existem pessoas perfeitas demais em te colocar um cabresto, ou te cegar também. Tudo é justificável para amenizar o resultado.

Mais do que desiludir profissionalmente e cegar emocionalmente, uma mísera onda conseguiu tirar a percepção das coisas. Totalmente (foi só para rimar com o resto dos fatos). É com uma seriedade fora do comum que pergunto se foi só o meu ano que passou em 1 mês. O ano voou, as tarefas tiveram seus prazos encurtados e o que foi bom também precisou ser mal aproveitado por conta disso. Talvez não digo que foram "mal aproveitadas", mas aproveitadas de forma muito, mas muito mais rápida, assim como todas as coisas boas que a vida nos proporciona. A gente fica mais velho e a rotina nos envelhece mais ainda. O que é bom é ínfimo diante da chatisse rotineira. É por isso que deveriam durar um pouquinho mais. Só um pouquinho mais já tá bom.

Injustiças deixadas de lado, os benefícios que vieram devem e merecem ser comentados sempre. A sagacidade das coisas me ajudou numa coisa: a não perder tempo com coisas que realmente não esteja afim. Não digo que me ajudou a escolher o que é bom ou o que é certo pra mim, mas sem dúvida ajudou a lutar pelo o que eu quero. Ou seja, a onda me ajudou a quebrar a cara mais vezes no ano, mas nisso eu conheci pessoas novas, tive novas experiências e saí constantemente da minha zona de conforto. No platonismo pude ter várias chances de descobrir pessoas novas e redescobrir as antigas, o que foi mais do que único. Pude gostar mais e melhor das pessoas, e aprendi muito com isso (e acho que também entrei num processo de alcoolismo, mas deixa isso pra outra hora). Com o trabalho fracassado, eu consegui descobrir no que eu era bom. Talvez não descobrir, mas confirmar. Talvez não confirmar no que eu era bom, mas confirmar no que eu quero ser bom. Enfim, o tropeço me colocou novamente na linha e a queda me jogou para frente. E sei como devo continuar seguindo.

Foi um ano intenso, cheio de problemas e aprendizados (que sempre andam de mãos dadas), e um deles virou mandamento: Não se embriague de champanhe antes de pular as 7 ondinhas. Se não conseguir não se embriagar, não passe o reveillon na praia.

Acatei e vou passar num sítio.
Feliz Ano Novo.


André N. Bueno

domingo, 25 de dezembro de 2011

Um sonho dentro de outro sonho.

Não sei o que escrevo, e com isso já quebro mais uma promessa semanal. Não sei nem por que as faço se sei que não vou cumprir (eu me conheço um pouco). É como nos últimos dias, tenho rabiscado algumas frases sem sentido e procuro um elo para ligá-las. Talvez sejam apenas alguns espasmos criativos de alguma lembrança sua espremida na minha cabeça, não sei. Mentira, não pode ser só uma lembrança. Vou te confessar uma coisa, mas fica entre nós, tá? Você não tem saído muito da minha cabeça, e isso me preocupa um bocado. Você teve hora pra chegar. Chegou do nada, fora do combinado, inclusive. Mas não lembro se em algum momento cogitou em uma hora para sair.

Bem queria eu conseguir entender tudo o que acontece comigo. Entender o porquê das pessoas entrarem na minha vida. Entender o porquê de permanecerem e, mais do que tudo da vida, entender o porquê de algumas delas escolherem sair. Às vezes penso que é melhor deixar assim mesmo, que essa dúvida eterna fique maltratando os pensamentos. Embora a curiosidade mate o gato - e nem sei também se é assim o famoso ditado -, manter essa curiosidade deixa as coisas fluirem tranquilamente. Fluir normalmente. É, também não sei se é nisso que eu acredito, mas tá tranquilo.

Hoje eu sonhei com você, e eu queria entender isso também. Na verdade, é o que mais tem acontecido. Você bate ponto na minha cama todas as noites. Quando chego para dormir, o travesseiro já está quente e macio. Você já está lá me aguardando para acariciar a minha cabeça enquanto pego no sono. Eu já sou preparado para sonhar com você, meu bem. E o sonho de hoje foi engraçado. Eu te procurava e você me dava esporros, dizia que eu estava fazendo errado, que era um imperfeito. Será que o meu passado contigo foi assim, imperfeito? Tão imperfeito quanto o meu uso do "dizer", no pretérito imperfeito? Pode ser que sim, mas acho que minha imperfeição no passado foi só uma: pensar no futuro.

Falando em futuro, existe alguma coisa mais vaga do que o futuro? Nossa relação é meio que atemporal, eu acho. Não tenho nem um passado e nem um presente contigo, quem dirá um futuro. O tempo está desconexo e sem sentido, assim como os parágrafos desse texto. Mas quem foi que disse que as coisas têm que fazer sentido, não é? Se tivessem, nós não deveríamos nascer de cabeça pra baixo; Nosso coração não poderia ser partido nunca; E, sem dúvida, as mulheres deveriam ter nascido com um manual de instrução. Essa última frase, aliás, já poderia ser considerada o clichê do século XXI. Não a frase, mas o sujeito dela. Ou a sujeita, sei lá.

O final do ano me perturba um pouco. Eu falo tudo e acabo não falando nada. Na mesa estão todos os meus problemas, mas nenhuma solução. Quanto mais tento me descomplicar, me complico ainda mais. Chego no ponto de achar que preciso dos meus problemas para viver. Eles balizam a minha vida de uma forma singular, e permitem que eu dê os meus vôos. Vou te contar um segredo, tá? Eu sou um idealizador. Sou eu quem crio o meu mundo, com todas essas coisas desnecessárias para saciar as minhas necessidades. Junto tudo o que nunca tive - você, por exemplo - e misturo nos meus sonhos. E é nesse momento que eu ajoelho e agradeço por ser você a responsável por eles. Amém.

ps.: nem preciso dizer que não achei o tal elo.


André N. Bueno

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Eu não sou um cara perfeito.

Eu não sou o cara perfeito, nem de longe. Aliás, só pra eu me considerar "bonitinho" já tenho que dar uns três passos pra trás na hora de pentear o cabelo, mas deixa isso pra lá. Pra começar, eu sou hiperativo, tenho déficit de atenção e baixa auto-estima (o pior que é verdade. Tomei remédio tarja preta durante 4 anos da minha vida para hiperatividade, e isso explica grande parte dos meus outros distúrbios). Por isso, não ligue se, ao olhar para mim, encontrar-me agitado, eufórico e mexendo o pé ou a mão. Também não fique nervosa quando eu não entender o que você disser e soltar um sonoro "quê?", mas fique ligada, porque vou usar essa desculpa sempre que não ouvir direito o que você disser. E, para contribuir com tudo, tivemos uma ajuda dos astros: sou canceriano. Mas isso é pra mais tarde.

Então você pensa: "Por que esse cara fica falando mal de si mesmo?". Pois é, eu tento ser muito pé-no-chão quando falo mal de mim. É quase como uma análise socio-antropológica. Quando falo de mim, penso em duas coisas principalmente. A primeira é que falar bem é fácil demais e as pessoas já estão pré-dispostas a ouvir elogios e fazer elogios. Sem contar que falar bem de si próprio não passa credibilidade. Segunda e mais importante: quando você se joga no abismo (um abismo hipotético, obviamente), não existe outro caminho a não ser subir. Por isso, quando eu conheço alguém eu já vou falando mal de mim. Falo mesmo. Mostrados os meus podres, a chance de impressionar é bem maior.

Digo que não sou perfeito por que não sou mesmo. Aliás, se achar perfeito já é uma imperfeição. Visto a minha imperfeição, faço de tudo para ser um pouquinho melhor em todos os dias da minha vida, um dia após o outro. Eu erro muito e isso é um fato. Mas, embora tenha milhares de defeitos, penso muito sobre meus erros, e não me deixo cometê-los novamente. Ou seja, meus erros são todos inéditos (e não sei se posso considerar isso um grande feito). Um grande feito é a experiência. Os erros são apenas uma forma de conhecer os caminhos que posso seguir. Quanto mais ando nos espinhos, mais descubro caminhos novos. Mas e os pés? Não estão machucados? Pois é, mas quando as intenções são boas a cicatrização é rápida.

Mas o que posso tirar dos meus erros? Bom, a hiperatividade nunca me deixou ficar parado. Isso me fez uma excelente companhia, sempre disposto a fazer tudo o que me propuserem. Gosto de ficar do lado e andar por todos os lugares junto. Aí vocês falariam: "beleza, uma excelente companhia. Mas de que adianta uma ótima companhia se ela tem déficit de atenção?". Pois é, é bem complicado, viu. Eu me esforço muito para prestar atenção nas pessoas. Posso dizer que quando a pessoas falam, as pessoas em volta desaparecem. Ou seja, quando você falar, eu só vou prestar atenção em você e mais ninguém. Ouviu? Eu não, porque estou prestando atenção em você.

Então chega o lance da baixa auto-estima. O que é baixa auto-estima? É gostar pouco de si próprio, do próprio corpo e de como veste? Claro que não. Baixa auto-estima (um puta nome cacofônico e com pronúncia super confusa, inclusive) é aprender a valorizar os outros e descobrir que você não é melhor que ninguém, mas que pode melhorar. E sabe o que isso significa? Que eu vou valorizar você mais do que as outras pessoas, porque para mim você é única, e a minha primeira chance é considerada uma das únicas. E é por isso todo aquele "mau jeito" em lidar, desculpa.

Aí, como se não bastasse tudo isso, ainda vêm os astros e me pregam uma peça logo no meu nascimento: sou de Câncer. E o que isso significa? Significa que sou extremista, mas no bom sentido. É o signo que mais confia. É capaz de fazer uma amizade hoje e hoje mesmo convidar para tomar uma cerveja junto e, se ficar tarde, ceder sua cama para a amizade e ficar na rede da varanda. Agora, quando fala de mulher, se o canceriano gosta dela, ele gosta de verdade, viu? E não existe falsidade, porque ele não consegue disfarçar. A mulher é "A" mulher. Confia demais. Se você está com esse cara, agradeça e se orgulhe. É um dos poucos signos que preferem ficar mal a vê-la triste.

Eu não sou um cara perfeito mesmo. E se fôssemos pegar todas os defeitos e colocar lado a lado, teríamos hiperatividade, déficit de atenção, baixa auto-estima e canceriano. Agora, se fôssemos fazer um balanço do que aprendi com tudo isso, diria que nasci companheiro, por natureza me fiz atencioso, por achar os outros melhor, aprendi a valorizar ainda mais as minhas "primeiras oportunidades" e aprendi a ser palhaço pelo simples fato de não aguentar conviver com a tristeza de quem está do meu lado. E se eu fosse tirar uma conclusão de todos esses meus defeitos, acabaria sendo contraditório. Por que sim, eu sou perfeito sim. Sou perfeito na escolha das minhas imperfeições.


André N. Bueno