terça-feira, 26 de abril de 2011

A Namorada Perfeita

Buscando ser o mais direto possível, diria que o dia-a-dia de uma agência de propaganda se resume em refação, ou retrabalho. O grande problema é que as pessoas vêem isso com os olhos errados. Todo trabalho dá trabalho, eu sei, mas já que vai ter que se esforçar de qualquer forma, porque não fazê-lo direito e visando concretizar uma idéia interessante? Claro que existem diferentes formas de um trabalho voltar, e que voltar um job de um diretor de criação é totalmente diferente de voltar um daquele cliente que ocupa suas tardes com dores de cabeça. Mas, se você gosta e quer trabalhar com criação (seja redatores com seus "especialistas", seja diretores de arte com os seus "manobristas de layout"), vai se deparar com isso em sua rotina. A pergunta a ser feita é: como passo a olhar a refação da forma certa?

Tá, vamos combinar que essa se trata de uma pergunta um tanto quanto difícil. Afinal, ninguém gosta de ficar fazendo a mesma coisa incontáveis vezes até atingir o cansaço. E cansa mesmo, confesso, mas a gente busca driblar essa sensação ruim com o foco - palavra mais usada por todos os tipos de profissionais; e, óbvio, que não deixa de ser uma verdade. Não a única, claro, mas se trata de uma verdade sim. Ser focado é muito importante no processo de refação, pois é isso que vai nos impedir de fugir do nosso campo de atuação e, conseqüentemente, nos fazer olhar errado.

A refação tem que ser vista como um processo para arrumar a namorada perfeita. É exatamente isso! Começa com a escolha do ambiente. Afinal, especialistas dizem não ser muito aconselhável arrumar aquela "garota dos sonhos" na micareta. Ambiente escolhido, agora é hora da abordagem - que talvez seja o momento mais difícil para a maioria dos homens. Você planeja todo um discurso, treina no espelho e vai em direção a menina com toda confiança do mundo, que sem pensar em nada lhe dá um corte - ou veto, toco, "não", como preferir. Muitos vêem essa primeira patada como definitivo, e é exatamente aí que mora o erro. Você ganhou uma segunda chance, criatura! Agora tem uma pista de algo que ela não gosta e pode agir diferente. É hora de refazer a estratégia, o discurso e ir novamente. Cada patada - ou cada refação - é um passo mais objetivo e pensado, e o mais importante: sempre pra frente.

O problema dos criativos iniciantes (digo isso porque realmente são os que ainda não entenderam a importância de tal), ou de qualquer profissional que necessita utilizar essa prática, é que eles não conseguem enxergar o retrabalho como necessário para alcançar a "lábia" perfeita e conseguir finalmente conquistar a menina mais bonita, inteligente e gente boa do colégio: que em seu anúncio seria o supra-sumo da genialidade; aquela puta idéia; enfim, a sacada genial e única. Acreditem ou não, é complicado uma mulher cair no primeiro xaveco, porque, querendo ou não, ela também quer testá-lo e ver o que você tem para oferecer. Se rolar rápido, não é duradoura. E com uma idéia é a mesma coisa. Ela não vem em direção a você sem esforço. Quer testar sua mente ao máximo e ver se é capaz de "desnudá-la".

Por isso, querido colega de trabalho (ou de outra profissão), como forma de um apelo emocional que visa melhorar a propaganda brasileira, quiçá mundial, peço encarecidamente que passe a ter um olhar diferente para aqueles jobs que enchem o seu saco ao voltar uma, dois ou três vezes. Pois como você sabe muito bem, é muito melhor jogar a vara várias vezes até fisgar um marlin, do que ficar jogando a sua tarrafa apenas uma vez pra pegar um monte de piaba.


André N. Bueno

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Estagiário

Explicando de modo simples: "Ei, pega aquilo, faz isso, vai lá e depois volta aqui. Ah, e não esquece do cafezinho". Mas agora falando sério, de simples não tem nada. Ser estagiário é foda! Me desculpem a palavra, mas é talvez a tarefa mais difícil que se pode designar a um pobre estudante, e por apenas um motivo: nunca é apenas uma tarefa pedida. O problema não é o excesso de trabalho - só justificando para não oferecer outras interpretações -, mas sim a exploração consciente e filantrópica dos seus chefes (afinal, ele faz isso pro seu bem. Não?). Mas buscando um modo de amenizar isso tudo, descobrimos que estagiário é estagiário em qualquer lugar, independente de curso, raça, estado em que reside, cor e classe social. Ou seja, durante esse período todos vão se ferrar da mesma forma. Então não chorem!

Lembre-se que o princípio básico do estágio é aprender, mas aqui vai uma dica: não deixe que a pessoa que for te contratar saiba disso. Ela não quer saber se você é um estudante que tem facilidade em aprender, mas quer um funcionário eficiente que consiga produzir tanto quando os outros contratados produzem, mas pagando "um pouco" menos. É injusto, eu sei, mas quem disse que a vida é justa né? Portanto, seja no mínimo bom e pronto, você está dentro. Já deu pra ver que de fora tudo é muito diferente. No interior das empresas - no meu caso, das agências -, é notável que todas aquelas burocracias não serão impressas sozinhas, e nem as contas voarão até o banco.

Brincadeiras a parte, o interessante do estágio é buscar sempre analisá-lo com outros olhos, e não julgá-lo como aquela criança chinesa que trabalha doze horas por dia produzindo alguns tênis da Nike - embora haja uma leve semelhança. Óbvio que devemos olhar com olhos de criança, mas mais do que isso, devemos "namorar" o nosso estágio. Ainda mais se for o primeiro. E é sério. É sem dúvida a melhor época para vivenciarmos a nossa profissão de perto. Coincidentemente, é quando mais erramos também. Afinal, qualquer processo de aprendizado apresenta dificuldade, mesmo que seja mínima, então não se crucifique. Ninguém aprende a andar sem primeiro tomar uns belos tombos. Mas ouse persistir nos erros pra você ver, a mira sempre é a orelha, que será alvo de bons e simbólicos puxões. Não é porque você é uma mão-de-obra barata escrava que deve ficar fazendo besteira, não é mesmo?

Busque utilizar esse tempo para aprender. Embora possam dizer que não, você tem passe livre para bisbilhotar todas as áreas e achar a que você mais tem afeição. Depois de ter o seu trabalho feito (ou seja, antes que lhe enviem outro job), vá sentar atrás das pessoas da empresa e descobrir o que elas fazem. Faça perguntas e observe. Seja curioso, mas não seja mala. Estagiário tem passe livre para aprender e não para atrapalhar, lembre-se disso. Use a criatividade e outros clichês atuais a seu favor, tal como a famosa "proatividade". Seja espontâneo e ofereça ajuda quando não estiverem precisando. Você é um "realizador de serviços", ou seja, seu único trabalho é ajudar, não importa quem e nem como.

Todo aprendizado é válido e, de coração, espero muito que toda essa merda que eu joguei no ventilador possa ser utilizada num futuro próximo por você que leu isso aqui e está a procura de um estágio. A minha intenção era fazer um texto "salva-vidas", para que cometam um pouco menos de besteiras, mas também que seu conteúdo seja duradouro. Não deixe que a realidade do mercado lhe dê um banho de água fria. Nunca se esqueça que a grande maioria das empresas têm pelo menos um de vocês no time deles. Se estagiário não fosse bom, todo mundo os deixava na reserva, não é? Agora, já que você está no horário de trabalho à toa e já terminou de ler todo o texto, que tal correr e adiantar aquele cafezinho?


André N. Bueno