terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Amor à Primeira Vista.

Nossa, me sinto como se essa fosse a primeira vez que me encontro com você. Opa! Mas não é que esse é nosso primeiro encontro mesmo? Brincadeira, eu não esqueci dele não. Aliás, eu lembro disso a todo momento e sofro por antecipação. Até tento esquecer um pouco para continuar fazendo aquelas coisas chatas do meu dia a dia, em vão. É exatamente quando aquele friozinho na barriga aparece para me lembrar. Me lembra que tenho relógio e me obriga a ficar contando as horas para um dos momentos mais - senão o mais - esperados da semana, ou do ano, ou da vida. Da minha, pelo menos. Eis que surge a aflição da tal primeira impressão.

Será que você vai gostar de mim de primeira ou vai me achar metido? Poxa, muitas pessoas já disseram que de primeira me acharam um pouco metido, mas depois voltaram atrás. Será que nossos gostos vão bater? Gosta de filmes? Eu sou fanático. Me acompanha em todas as vezes que for? Prometo que compro a pipoca e guardo seu lugar quando precisar ir ao banheiro. Pra que time você torce? Droga, você não torce pro Vasco? Tá tudo bem, eu também não sou fanático por futebol. Será que meu papo vai ser interessante para você? Se ficar com sono me fala que eu compro um café. Não liga muito não, tá? É porque eu estou mesmo um pouco nervoso. E, quando nervoso, fico fazendo essas piadinhas sem-graça mesmo. É quase minha válvula de escape.

Desculpe pela chuva de perguntas. O fato de ser de perguntas também não ajuda em muito, mas é porque realmente queria saber mais sobre você. Saber onde mora, o que gosta de fazer e se posso fazer tudo isso contigo. Queria saber se você vem sempre aqui (Essa cantada, sério?). Não, não, dessa vez nem tô falando dela não. E estou um pouquinho envergonhado para fazer qualquer abordagem desse tipo. Mas gostaria de saber mesmo. E que horas que chega aqui? Prometo que na próxima vez colocarei a minha melhor roupa e pegarei revistas para decorar suas frases mais bonitas. O que estou falando... Sei que quando estiver me aproximando vai me dar um branco daqueles e vou começar nosso papo de novo com aquele sorriso amarelo de timidez. Perto de você sou quase uma criança se escondendo atrás da saia da mãe.

Minha timidez pede desculpas. Eu costumo falar bem. Muito, até, mas hoje estou contendo a minha língua. Deixar você falar um pouco mais hoje é a minha tática para tentar te deixar à vontade. Conhecer o seu jeito é a melhor forma de eu planejar o meu próximo passo. Saber o que dizer sem dar com a língua entre os dentes. Te deixar sem graça para então elogiar o seu sorriso e saber quebrar o gelo na hora que citar o "ex". No entanto, para um próximo passo, é preciso que eu não saia da direção certa, entende? Essa minha primeira impressão talvez seja a minha única chance de impressionar.

Não quero perder oportunidade nenhuma que a vida me dá. Dizem que as coisas não vem por acaso e nem precisam ter razão ao acontecer. Confesso que eu não estou aqui por acaso e com certeza você também não passou por mim por alguma razão específica. Era pra ser assim: Minha timidez com sua beleza e meu silêncio para um possível e futuro passo (Isso é, se minhas pernas pararem de tremer) de mãos dadas. Sei que parece ser muito abuso - eu também acho que é -, mas, mesmo depois de tudo isso, me deixaria fazer uma última pergunta? Você acredita em amor à primeira vista? Pois é, acredite. Eu também não acreditava até hoje.


André N. Bueno

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ah, se meu travesseiro falasse.

Uma certeza que tenho: se meu travesseiro fosse gente, não há dúvidas de que morreria de vergonha dele. Já foi cada cena presenciada. Foram tantas confissões, declarações ultra-sigilosas, orações sinceras, choros escondidos, sem contar nos pensamentos despretensiosos, que são incontáveis. Dá para falar com propriedade que se melhor amigo é aquele que te consola e que passa os momentos mais singulares da sua vida, eu sou o melhor amigo do meu travesseiro.

Ele é um amigo estranho, confesso. Meio caladão, não costuma falar muito sobre as coisas da vida, não está muito antenado com os acontecimentos do mundo e sequer sabe quem foi o vencedor do último campeonato brasileiro ou do último BBB. Mas eu não reclamo, afinal nem sempre os que mais falam são os que tem os conselhos mais sábios. Em compensação, ele é um excelente ouvinte. Pra falar a verdade, nunca vi ninguém ouvir tão bem quanto ele, e sabe o porquê? Por que ele afaga enquanto te ouve. E se tivesse mãos, com certeza também faria cafunés.

Afagos, cafunés, consolos e confissões. Algo estranho acontece. Essa amizade está caminhando para outro lado, e a marcar território. Não é difícil perceber isso. Não é mistério pra ninguém: amigo escuta, mas zoa; consola, mas briga; atura, mas fica bravo. Amigo não consente suas opiniões facilmente, porque tem o direito e o dever de discordar. Isso não parece amizade. Mais parece um jogo de batalha naval.

Algo peculiar é sua aparência. Costuma ser 8 ou 80, não tem meio termo. Isso me atrai bastante, porque odeio tudo que é frequente e comum. Odeio rotina. E, mesmo sendo muito pálido, ou costuma se vestir para um réveillon, todo de branco, ou para um show do Calypso, uma miscelânea de cores com estampas esquisitas. Um detalhe importante: sempre amarrotado. Olho pra ele e noto que não está nem aí, e que nem se importa com isso, pois está bem com o que ele se propõe a ser. Me ensina que não importa o que existe por fora. O que tem fora é casca; rasga, suja e, por isso, torna-se totalmente substituível. Totalmente diferente do que há por dentro, que vicia e cria dependências físicas e psicológicas mais fortes que qualquer alucinógeno existente por aí. E de graça, praticamente.

A dependência é um tipo de sentimento. Não é nada pequeno, muito pelo contrário: é bem forte e às vezes se confunde com amor. O primeiro encontro é fundamental. Se bateu a química, já era. Vai abraçar, agarrar e dormir junto todos os dias, e com a certeza de que não seremos traídos. Ou você acredita em traição por parte de alguém que te leva pra cama todos os dias e espera ansiosamente a sua volta, e com seu cheiro? É uma tara. Sem dúvida o mais ninfomaníaco dos objetos. Um exemplo clássico de fidelidade feudal.

A partir do momento em que sabe todos os meus segredos, seu conforto se torna desconfortável. Seus ensinos e sua intimidade e meu cheiro, todos juntos num mesmo lugar. Seu princípio de amizade e seus acertos desconcertantes. Todos os ensinamentos e suas singularidades comigo. Todos os momentos juntos e juntos num só momento. Sua vontade de estar comigo em todos os lugares, a todos os instantes. Se meu travesseiro fosse uma pessoa e falasse, eu ficaria com dores de cabeça e frios na barriga, e eu nunca ficaria deitado, pois estaria de joelhos.


André N. Bueno

@dedenb