quinta-feira, 7 de julho de 2011

As três fases da vida.

Já nasci levado e sapeca, com o joelho ralado e sujando a cueca. Já tomei muito esporro da mãe por sujar a porta da vizinha de lama, brigar com irmão, tirar nota baixa na escola, além de tapa na boca por xingar. A infância é linda, e a curiosidade mais ainda. Grande parte de tudo o que aprendemos na nossa vida foi aprendido na infância, sem dúvida. Só com o passar dos anos que você nota que todo e qualquer brigueiro que você toma quando criança remete quase e exclusivamente para aquela época. Percebe então que cada época tem as suas regras e, dentre de tudo, seus limites, aprendizados, esporros (que nunca te largam) e elogios. Sim, elogios. O elogio é o que mais nos aproxima das pessoas. Embora já tenham errado tanto quanto - ou mais ainda - do que nós, os elogios são a forma encontrada pra dizerem "Você está ficando bem parecido comigo". E nossas 'quebradas de regra' são o jeito que encontramos pra dizer "Te admiro, tenho-te como referência, mas quero ser diferente". O tempo passa e a gente passa de fase. Entramos na adolescência. Fase essa que também tem sua beleza. É a fase dos amores e da loucura. Você aprende que consegue amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Na verdade, você não aprende, mas sabe que consegue. Mas também não tinha outro jeito, porque a adolescência é a fase dos corações partidos. Tantos amores de cinema declarados em cartinhas anônimas, flores de plástico, versos parodiados e guardanapos com marcas de batom. Tempo bom a adolescência. Pouca responsabilidade e um mundo pra conhecer. E, se voltasse às 22h como a mãe sempre pedia, não ficava de castigo e poderia conhecer mais ainda no dia seguinte. E ficamos bons anos na vida boa, nos apaixonando diariamente e tirando a média na escola pra sair com os amigos para aquelas festinhas americanas em que você sempre levava o refrigerante, espertinho. Acaba a adolescência e, com isso, chegam as responsabilidades. Vestibular, faculdade, estágio, primeiro emprego, namoro sério, casamento, falta de tempo, contas a pagar, filhos, contas a pagar, falta de tempo e mais responsabilidade. A fase adulta é aquela fase saudosista em que se sente saudade das outras. É quando notamos que a vida é uma eterna ironia. Quando a gente é criança, queremos crescer. Quando crescemos, queremos voltar a ser criança. Tudo se passa rápido demais por nos focarmos na política do 'pouco': ouvimos pouco, paramos pouco, lemos pouco, observamos pouco, amamos pouco. Resumindo: vivemos pouco. Se soubéssemos disso no período vivido, daríamos mais atenção. Daríamos mais atenção aos esporros dos pais, aos elogios. Por sentir saudades, brigaríamos mais com o irmão, tiraríamos mais notas baixas na escola, só pra ter os pais mais próximos ainda. Quebraríamos mais regras, nos apaixonaríamos mais e, consequentemente, tomaríamos mais 'nãos'. Teríamos dez namoradas na adolescência. Mandaríamos mais bilhetes, cartinhas, poemas, flores, versos parodiados e guardanapos com marcas de batom. Faríamos mais vestibulares, faculdades, estágios e teríamos mais namoros, filhos e contas pra pagar. Mas faríamos isso de forma pausada, aproveitando tudo o que temos direito. E, no final de toda essa jornada, se perguntassem se tive uma boa vida, responderia que nasci levado e sapeca, com o joelho ralado e sujando a cueca, e que levei toda essa energia pro resto da vida.