sábado, 26 de novembro de 2011

Saudades do que nunca tive.

Meus ídolos cresceram, minhas bandas favoritas envelheceram – algumas colocaram o ponto final em suas histórias – e meus filmes preferidos não passam de “figurinhas repetidas” da famosa Sessão da Tarde. Toda a minha infância, uma parte de mim que eu gosto e sinto falta, está indo por água a baixo, e sem qualquer possibilidade de eu lutar contra isso.

Sinto falta de sair na rua, quando ela ainda tinha as calçadas seguras para sentar e bater papo com os amigos. Sinto falta de quando os meus amigos eram mais animados ao gritar e falar e inventar brincadeiras, e de quando correr era vontade, e não necessidade. Sinto falta de quando o computador era apenas mais uma alternativa de brincar, quando não conseguíamos juntar a molecada para brincar de “piques”, e não a primeira opção. Sinto falta de quando os meus vícios se limitavam em dois “S”: sorrir e sorvete.

Se pudesse trazer coisas antigas para hoje, uma delas seriam as viagens em família, mesmo com minha família pequena – pequena na quantidade, gigante no amor. Também traria minha ingenuidade e minha criatividade de volta. Minhas manias e meus trejeitos, minha vontade de fazer bombas caseiras e a minha enorme capacidade de tirar todos do sério.

São saudades de coisas que nunca tive. Vivia numa época que “viver” era mais importante do que “ter”. A experiência valia mais do que tudo na vida. Gostava da época em que brigar com meu irmão pelo computador era legal, pois era mais uma forma de me aproximar dele. Hoje ele é um dos meus melhores amigos, embora o meu maior contato com ele seja com breves e esporádicos encontros nos corredores da sala de nossa casa ou no “disponível” nessas anti-sociais redes sociais.

E o amor? Sinto saudade do amor ridículo. Gosto de coisas bregas. Gosto de ficar junto (sou canceriano. Se não entendem, façam uma breve pesquisa). Gosto de coisas antiquadas, como cartinhas escritas a mão e declarações idiotas feitas de formas mais idiotas ainda, como rabiscar o espelho com baton. Saudade de conversas gigantescas no telefone, dos “desliga você”, e brigueiros épicos da mãe, quando a conta chegava. Minha história me fez sincero – até demais da conta. Se gosto, gosto como pingüim; gosto pra sempre. Se não, faço como indiana Jones e fujo.

Hoje eu pego tudo o que falo e fico pensando. Ouço uma música e vejo um filme em minha cabeça. Meu primeiro machucado, meu primeiro amor, mamonas assassinas e videokê. Passeios de domingo com meu pai, almoços com minha avó. Meu excesso de tempo para não fazer nada e uma certeza de que tudo é passageiro, exceto as piadas ruins que fazem com essa frase. Eu me perdi em mim mesmo, e na minha memória, e não quero me achar.

Minto. Não acho que minha identidade está sendo perdida. Não acho que nasci no tempo errado. Não acho que todas as minhas saudades não deveriam ter “virado” saudades. E não sou tão nostálgico assim. Só acho que se tudo o que comentei aconteceu, sem dúvidas de que aconteceu na hora certa, porque deixou saudades. Foram elas que me moldaram. Elas que me fizeram do jeito que sou. Se sinto todas essas saudades, são saudades de mim mesmo.


André N. Bueno
@dedenb

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Vivemos no excesso, mas perdemos a essência.

Os tempos mudaram e as pessoas também, e isso não me alegra nem um pouco. O mundo cresceu, mas as pessoas diminuíram. Não em tamanho, claro, mas em caráter. Diminuíram em personalidade, em valores, o que é uma perda muito maior. Todas as mudanças conseguem ser tão bruscas, tão intensas e, ao mesmo tempo, tão desnecessárias. Nada mais será como antes, e por isso que estou muito puto.


Eu estou em luto com a morte da inocência. A inocência no olhar das pessoas, nas conversas entre elas. O que sobrou foi a malícia. Gostava da época em que o interesse era conseguir arrancar um sorriso de alguém de forma despretensiosa. Como preciso culpar alguém, prefiro culpar a todos, pois o mundo e as pessoas vivem em um relacionamento de compensação: o mundo estraga as pessoas e as pessoas estragam o mundo.


A velocidade da tecnologia é a mesma velocidade com que cresce a amargura das pessoas, que é a mesma do aumento da minha indignação. O vício pelo novo estragou a tranquilidade das rotinas. Eu fico nervoso comigo mesmo, porque acho cada vez mais difícil trocar esse fanatismo tecnológico por alguns momentos a toa, deitado na cama com os pés pro alto, a pensar na vida. Ah, que saudade dos meus momentos de ócio que me acrescentaram tanto. Ao que sou, devo muito à minha preguiça. Foi ela que me ensinou a pensar.


Vivemos no excesso, mas perdemos a essência. Essa internet me deu tantos amigos. Então por que me sinto tão solitário no meio dessa multidão? Será que vou sentir falta dos seus “likes” e dos seus comentários das minhas bobagens rotineiras? Sinceramente não sei. Aliás, eu não sei nem quem são essas pessoas. Todas estão mascaradas atrás de uma tela de computador. Em cima de um palco de teatro. Agora todos são atores e podem ser quem quiserem. Tudo para conseguir algumas palmas.


Como desconheço as pessoas, criei eu mesmo uma forma de avaliação das minhas amizades. Desenvolvi um tipo de padrão de qualidade super específico e com uma capacidade identificadora incrível que se discrimina em duas partes. A primeira parte, e pré-requisito, é a seguinte: para ser meu amigo, tem que ter tomado comigo uma cerveja “real”. A segunda, e não menos importante, é que os meus amigos têm que utilizar o meio online justo e exclusivamente para fazer me afastar dele.


O novo mundo é uma geladeira, mas não quero entrar numa fria. Aliás, até quero, mas só pra pegar mais uma gelada.



André N. Bueno

@dedenb