segunda-feira, 24 de outubro de 2011

No mundo da lua

Escrever sem tema, palavra sem letra, parágrafo sem frase. Nada precisa fazer sentido. Às vezes perguntam-me se estou ocupado, sem inspiração ou apenas sem vontade de digitar algumas poucas linhas aqui. Pergunta-me se estou vazio, sem conteúdo ou se perdi o jeito. O que poderia dizer? Se negar alguma dessas perguntas, me perderia para explicar o porquê da negação. Por isso, faço questão de apenas afirmar. Balanço a cabeça positivamente, abro um sorriso e solto um sonoro "uhum".

Assim como um poema sem rima, um comportamento também não precisa de significado. Às vezes você quer apenas ficar ali, parado, sem nenhuma intenção de manifestar algo (mesmo que isso já implique numa forma de manifestação). Maldita contradição de natureza humana. Por isso escolho afirmar com um sorriso. Não existe uma forma melhor de ser indiferente do que mostrar-me positivo, e demonstrar às pessoas que elas não precisam se preocupar comigo, porque às vezes, quando demonstro não pensar em nada, na verdade estou a pensar tanto que é preferível não soltar nenhuma pérola para não perder todo o brilho que o silêncio pode trazer.

Não dá para manter uma regularidade, porque sou um poço de irregularidades. Não dá para trazer sempre assuntos pertinentes, porque, às vezes, eu mesmo não consigo me achar. Não dá para colocar um peso no que estou dizendo, porque todos sabem que minha cabeça vive no mundo da lua e tem momentos em que prefere passar uma temporada por lá. E o pior é que vê isso como uma válvula de escape reversa, que funciona justamente para não deixar nada escapar.

Ainda bem - ou não - que tudo é passageiro e que não preciso me preocupar, pois logo colocarei os pés no Planeta Terra. É inevitável. Mas, enquanto isso não acontece, me deixem na lua, sem contato, com espaço e observando de longe toda essa loucura que os seres humanos causam nesse manicômio que eles fazem questão de chamar de "vida real". As aspas só justificam que de "real" não tem nada, e que talvez seja até mais irreal do que o meu mundinho da lua. O que o torna cada vez mais atraente aos meus olhos.

Infelizmente não conseguiria explicar algo que não é claro nem para mim, e por isso prefiro não falar nada. Busco apenas transformar a minha rotina nesse mundinho louco, insano e utópico que não deixa ninguém incomodar. Afasto-me em perspectiva, abro meus ouvidos quando não quero ouvir ninguém e fecho os olhos quando quero preciso enxergar melhor. É como disse antes: nada faz sentido. Para vocês, claro.

E não consigo explicar sem transformá-los imediatamente em psicólogos que me encherão de conselhos que, no fundo, não servirão para nada. Para dar um conselho sincero é necessário profundidade, o que apenas eu tenho no momento. Isto me faria o meu próprio psicólogo, o que me transformaria em uma pessoa mais maluca ainda. Por isso, quando as pessoas perguntam se eu estou ocupado, sem inspiração, sem ritmo ou se perdi o jeito, eu simplesmente me rendo à preguiça de apresentar o manual da boa convivência do meu louco mundo: Abro um sorriso, balanço positivamente a cabeça e digo (finjo) que sim, que perdi o jeito.


André N. Bueno

Um comentário:

  1. Preciso dizer!?
    Me sinto honrada em ser a primeira a comentar!
    Sempre me identifico com seus textos... e por favor, não diga que perdeu o jeito! Isso seria impossível!
    Parabéns e obrigada pelo texto!

    Beijo.

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