segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Vamos marcar?
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Conversa de Casal
Era noite e Fernanda chegava do trabalho. Visivelmente cansada, estava a semana inteira preocupada com a falta de diálogo com o Luís, seu marido, o que a fez chegar em casa já enfurecida, soltando fogo pelas "ventas". Por coincidência, encontra o dito cujo sentado à mesa e, obviamente, já o metralha com um monte de questionamentos:
- Luís, o que está acontecendo com a gente? É sério, estou começando a ficar preocupada. Eu chego em casa todo santo dia e encontro você aí nessa cadeira, olhando para essa porcaria de televisão e zapeando todos os canais com essa porcaria de controle remoto. Toda vez é a mesma coisa. A gente não conversa mais. Nunca mais. Nem uma palavrinha sequer. Como pode isso?
Só para sua informação, eu li num livro desses aí que as mulheres precisam falar sete mil palavras por dia. Ouviu? 7000 palavras. Nosso caso está tão sério, mas tão sério, que se a gente conversa umas três frasezinhas por dia já é muito. Se nossas conversas fossem sexo, seria como naquelas vezes que a gente... que você... bom, deixa isso pra lá.
E mais. Nós somos casados, Luís. Ca-sa-dos. Não é só fidelidade que eu preciso. Também preciso de atenção e carinho. Preciso de alguém que pergunte como foi o meu dia. Que me diga palavras bonitas sem eu precisar dizer nada. Nos nossos votos, prometi ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. Mas não me lembro em nenhum momento de ter prometido ser fiel no "silêncio e na falação".
Eu tô falando de verdade. Se eu falei isso sem notar, no "calor" do momento, vou ter que ir àquela igreja pra ter um papo sério com o padre e tentar desfazer isso. Aliás, acho que vou fazer isso mesmo, viu. Pelo menos, na pior das hipóteses, ele vai me escutar, né. Luís, ô Luís, você tá me ouvindo?
É, sério... acho que se isso continuar, vou começar a fazer uma greve de sexo e...
(Fernanda é interrompida abruptamente por Luís antes mesmo de terminar sua fala)
- Tá bem, amor, eu converso com você... só espera eu terminar de jantar.
- Ah, agora também não quero mais não, já falei demais.
André N. Bueno
@dedenb
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Amor à Primeira Vista.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Ah, se meu travesseiro falasse.
Uma certeza que tenho: se meu travesseiro fosse gente, não há dúvidas de que morreria de vergonha dele. Já foi cada cena presenciada. Foram tantas confissões, declarações ultra-sigilosas, orações sinceras, choros escondidos, sem contar nos pensamentos despretensiosos, que são incontáveis. Dá para falar com propriedade que se melhor amigo é aquele que te consola e que passa os momentos mais singulares da sua vida, eu sou o melhor amigo do meu travesseiro.
Ele é um amigo estranho, confesso. Meio caladão, não costuma falar muito sobre as coisas da vida, não está muito antenado com os acontecimentos do mundo e sequer sabe quem foi o vencedor do último campeonato brasileiro ou do último BBB. Mas eu não reclamo, afinal nem sempre os que mais falam são os que tem os conselhos mais sábios. Em compensação, ele é um excelente ouvinte. Pra falar a verdade, nunca vi ninguém ouvir tão bem quanto ele, e sabe o porquê? Por que ele afaga enquanto te ouve. E se tivesse mãos, com certeza também faria cafunés.
Afagos, cafunés, consolos e confissões. Algo estranho acontece. Essa amizade está caminhando para outro lado, e a marcar território. Não é difícil perceber isso. Não é mistério pra ninguém: amigo escuta, mas zoa; consola, mas briga; atura, mas fica bravo. Amigo não consente suas opiniões facilmente, porque tem o direito e o dever de discordar. Isso não parece amizade. Mais parece um jogo de batalha naval.
Algo peculiar é sua aparência. Costuma ser 8 ou 80, não tem meio termo. Isso me atrai bastante, porque odeio tudo que é frequente e comum. Odeio rotina. E, mesmo sendo muito pálido, ou costuma se vestir para um réveillon, todo de branco, ou para um show do Calypso, uma miscelânea de cores com estampas esquisitas. Um detalhe importante: sempre amarrotado. Olho pra ele e noto que não está nem aí, e que nem se importa com isso, pois está bem com o que ele se propõe a ser. Me ensina que não importa o que existe por fora. O que tem fora é casca; rasga, suja e, por isso, torna-se totalmente substituível. Totalmente diferente do que há por dentro, que vicia e cria dependências físicas e psicológicas mais fortes que qualquer alucinógeno existente por aí. E de graça, praticamente.
A dependência é um tipo de sentimento. Não é nada pequeno, muito pelo contrário: é bem forte e às vezes se confunde com amor. O primeiro encontro é fundamental. Se bateu a química, já era. Vai abraçar, agarrar e dormir junto todos os dias, e com a certeza de que não seremos traídos. Ou você acredita em traição por parte de alguém que te leva pra cama todos os dias e espera ansiosamente a sua volta, e com seu cheiro? É uma tara. Sem dúvida o mais ninfomaníaco dos objetos. Um exemplo clássico de fidelidade feudal.
A partir do momento em que sabe todos os meus segredos, seu conforto se torna desconfortável. Seus ensinos e sua intimidade e meu cheiro, todos juntos num mesmo lugar. Seu princípio de amizade e seus acertos desconcertantes. Todos os ensinamentos e suas singularidades comigo. Todos os momentos juntos e juntos num só momento. Sua vontade de estar comigo em todos os lugares, a todos os instantes. Se meu travesseiro fosse uma pessoa e falasse, eu ficaria com dores de cabeça e frios na barriga, e eu nunca ficaria deitado, pois estaria de joelhos.
André N. Bueno